I'm Winston Wolfe. I solve problems.

quinta-feira, agosto 31, 2006

Museu de grandes novidades


    Requisitos para ser uma cantora de sucesso nos EUA

    1. Bunda

    2. Boca suja

    3. Bunda

    4. Saber rebolar

    5. Bunda

    6. Saber fazer poses de rapers

    7. Bunda

    8. Saber "pagar" de vagaba

    9. Bunda

    10. Ostentar pose de fodona

    11. Bunda

    Mais novo exemplar da espécie: Fergie, ex-Black Eyed Peas


quarta-feira, agosto 30, 2006

Pearl Harbor

Esse Inagaki tá cada vez mais pop. Não contente em ser fonte da "Época", o japa agora virou fonte da "Folha", pagando de humildão na Folha Informática de hoje. Daqui a pouco, vai cobrar pra deixar comentário.

A propósito Ina, já pode descontar aquele chequinho, beleza?

Cadernos de Acadjimia - Capítulo 3 - Da cantada gay


    É fato: uma hora ou outra, alguém vai te cantar entre um supino e um peitoral. Isso eu já sabia. Mas não esperava que fosse tão cedo. E com um cara. Levando em conta que o máximo de experiência homossexual que possuo são as bolinações diárias do Dringola no jornal e um furtivo e desavisado selinho em Deus, até que me sai bem.

    O cara é assíduo freqüentador do aparelho destinado ao fortalecimento de glúteos e isso já levanta suspeitas. Todo mundo que freqüenta ou freqüentou uma academia sabe que o tal dispositivo é quase exclusivo da mulherada, que quer, por N motivos, ficar com a bunda dura e empinada. Nada contra. Nádegas são assunto encerrado antes mesmo de começar. Eu prefiro manter minha bundamolice típica de quem não dá bolotas para o papo.

    Mas o cara curte o lance. E eu estava no aparelho ao lado, puxando ferro pra desenvolver o tríceps, que descobri ser o músculo localizado abaixo do bíceps. E qual não foi minha surpresa ao constatar que eu também tenho um e em bom estado de conservação. Talvez pela falta de uso, penso, quando sou interrompido pelo sujeito dos glúteos.

    - Ei, já tá dando resultado, hein?

    Eu olho para ele, num sorrisinho amarelo. Chacoalho a cabeça e inspiro um "é" cheio de reticências. Ele continua.

    - Não faz nem três semanas e os braços já está bem desenvolvidos, né? Seu porte físico é bom, você é magro, então ajuda.

    Não consigo evitar o rabanete que minha cara toma cor. Solto outro "é", desta vez seco. O homem-bunda não se dá por vencido.

    - Eu demorei um tempão para conseguir uma definição assim. Tá puxando quanto de supino?

    Aí foi demais. Achei melhor responder, no melhor estilo Leão da Montanha.

    - Nem sei, sabe? O professor coloca e que faço. Mas não quero ficar muito forte, não. Minha mãe não quer, disse que filho dela deve ser esguio e elegante. Ah, minha mãe é demais, ela sabe tudo de tudo e quer só o melhor para mim. Por isso eu amo tanto ele e faço tudo o que ela pede.

    O senhor-das-nádegas faz um "hã" com os olhos vidrados no nada e volta a esfolar a bunda. Eu pico a mula para o aparelho de supino, do outro lado da sala.

terça-feira, agosto 29, 2006

segunda-feira, agosto 28, 2006

Tempos Modernos ou Lulu Santos é Um Bosta Mesmo



    Bob Dylan tem 65 anos e assovia, chupa cana e toca gaita ao mesmo tempo. Já fez tanto pela música que poderia muito bem se eternizar num desses takes de cidade de interior, o sujeito na varanda da casa, pra frente e pra trás numa cadeira de balanço, contemplando o infinito enquanto masca qualquer coisa. Mas não. Não o velho Robert. Não cara que redefiniu o rumo da carreira dos Beatles. Não o moleque que peitou os próprios fãs em nome de sua arte. Não. Ele, não.

    Lançando um disco depois de um hiato de cinco anos, ele continua rock´n´roll. Em sua mais recente entrevista, diz que as gravações feitas hoje possuem qualidade detestável. "Não há definição de nada, não há vocal, nada, é como... estática", bradou o bardo há coisa de uma semana, na Rolling Stone. Seria apenas capricho de um velho rocker, sinais de que até as lendas tornam-se recalcadas e reclamonas com o passar do tempo, deixando para trás o entusiasmo de outrora e entregando-se ao inevitável inverno de suas existências criativas? Pode ser. Mas não o velho Mister Zimmerman. Ah, não senhor.

    Sua verborragia vai além de críticas aos padrões técnicos de gravação.

    "Comentando as reclamações da indústria da música de que os downloads ilegais significam que as pessoas estão conseguindo suas músicas de graça, ele declarou: 'Bem, por que não? Não vale nada mesmo'".

    Sacaram? O maior compositor da era de ouro do rock, a referência suprema para qualquer um que se decida como músico de verdade, afirma que suas canções não valem nada. Novamente: não é o Tatau do Araketu quem está dizendo isso. É Bob Dylan. O último sujeito de quem se esperaria uma declaração desse tipo. Mas ele a faz exatamente porque pode. Ao contrário do Tatau do Araketu, ou do Lulu Santos do título, gente sem talento que sobrevive graças ao péssimo gosto musical do brasileiro médio, e por isso briga feito cachorro vira-lata por causa de um osso velho, Dylan não dá a mínima para isso. Ele se garante e sabe disso.

    E "Modern Times", a bolacha que tem lançamento oficial amanhã, é a prova. Dez canções bobdylianas. Gaitas, guitarrinhas à la Chuck Berry, pianos de saloon, e a voz tão malhada pelo tempo que sequer se nota seu canto nasal. E, claro, as letras. Aquelas que ele está pouco ligando. Logo na primeira, cheia de um desolado sarcasmo, ele canta que estava pensando sobre Alicia Keys e não pôde conter as lágrimas. Precisa de mais?

    Precisa. Precisa ouvir o disco inteiro. Tá aqui, ó. A senha é Opus666. Cortesia, claro, da galera do Opus666, que merece visitas periódicas, diga-se de passagem.

    Agora vai pagar pau para o mestre, vai.

domingo, agosto 27, 2006

Resposta


    Ah, mas você ta fudido agora. Vou espalhar que não sou mais aquela de outrora. Começarei descrevendo trepadas alucinadas, cheias de perversão e ressentimento, que de tão detalhadas você vai chegar a sentir aquele cheiro que te arrepia as costas. Vou contar de orgias memoráveis, quatro, cinco sujeitos me varando em meio a impropérios dos mais inadmissíveis para a mocinha de família aqui que você conheceu. Sim, porque familiar é a última coisa que irei soar.

    Eu sei que isso te faz sofrer. Me imaginar fazendo com os outros o que queria que eu fizesse com você. Porque era exatamente isso que eu representava para você, não é? Uma boneca inflável de carne e osso, um pedaço de gente feito para treinar, usar, sugar até a última gota de fluído lubrificante e aí dar um tempo, fumar um cigarro, baforar dentro da garrafa e sair gingando. Então você merece tudo isso. Merece mais. E é isso que vai ter.

    Sei que não vai resistir e vai dar um pulinho aqui uma hora ou outra. Porque vou atualizar isso aqui para os seus amigos. Vou inclusive incluí-los nos meus feitos. Todos eles. Um de cada vez ou de uma vez, não vou poupar nada. Deixar fluir tudo aquilo que você se esforçou tanto para eu liberar, só que agora você vai só olhar. Não vai aproveita de um centímetro suado sequer desse corpo. Um sadismo voyerístico que, tenho certeza, vai te torcer o estômago bem devagarzinho, linha a linha.

    Porque o que vou escrever vai te fazer se arrepender de tudo o que jamais deveria ter feito. Transformarei sua menininha na maior serviçal da sacanagem que jamais existiu. E você vai ficar sabendo, ah, isso eu garanto. Cada gota de líquido que fluir será incansavelmente descrita, analisada e contextualizada de acordo com a situação. Nada ficará de fora do que eu fizer ou fizerem comigo. E eu lhe asseguro: não será pouco. Ah, mas não será mesmo.

    Serei o assunto do dia em fóruns e chats dedicados ao meio. Até quando estiver almoçando meu nome correrá, mesmo que baixinho e discreto, nas mesas repletas de idiotas como você. Logo vão te questionar se tudo aquilo que escrevo é verdade, e quanto mais você negar ou me tripudiar, mais atiçará a curiosidade deles. E mais vontade terei de compartilhar e ser compartilhada. Sua dor só não será maior que sua vergonha, porque pode ter certeza que a última coisa que te darei será destaque. Muito pelo contrário.

    E não haverá saída. Onde você estiver eu vou te achar. Não porque quero, mas porque irão te dizer, encher de perguntas, fazer insinuações, levantar suspeitas das mais diversas sobre nossa vida juntos. Cada trecho do que eu escrever será tão repleto e completo do mundo que você supõe imaginar que será difícil duvidar da veracidade dele. Mesmo assim, você não acreditará totalmente no que vai ler. E isso será ainda melhor. Porque vou lhe dar o sagrado benefício da dúvida. De agora em diante. Só eu e você. Até o fim.

sexta-feira, agosto 25, 2006

... and I feeling good


    Placebo me dá vontade de comer todo mundo. Com Bon Jovi me sinto um panaca. Os Rolling Stones revelam meus instintos mais primitivos. Paul, John, Ringo e George me lembram da esperança que não posso perder.

    Magic Numbers me dão vontade de ser alguém melhor. Com Billy Holiday me sinto o mais fodão dos homens. Os Ramones revelam uma vontade incontestável de voltar a ser adolescente. Morrissey e Marr me lembram de uma tristeza violácea que não posso perder.

    Led Zeppelin me dá vontade de botar pra quebrar. Com Arcade Fire sinto as lágrimas rolarem em profusão. Os Strokes revelam meu lado briaco. Kurt, Krist e David me lembram de uma rebeldia que não posso perder.

    Panic! At the Disco me dá vontade de dançar. Com Kings of Leon sinto uma saudade imensa de um tempo que nem se foi. Os irmãos Gallagher revelam uma arrogância inglesa podre de charmosa que aprecio com um leve sorriso de canto de boca. Renato Russo me lembra de uma idade que há muito passou.

    Lou Reed me dá vontade de ir à Nova Iorque. Com o Grand Funk Railroad sinto minhas mãos prontas para uma air guitar. Os Hellacopters revelam uma vontade imensa de montar uma banda. Bono, The Edge, Larry e Adam me lembram que faz música pop é para poucos e bons.

    David Bowie me dá vontade de comprar todos os seus discos. Com Iggy Pop sinto meu couro cabeludo arrepiar aos primeiros acordes. Os Arctic Monkeys revelam que o tudo e o nada na cultura pop é separado por uma linha mais tênue do que se imagina. Bob Dylan me lembra que ainda preciso ouvir muita música.

Trutas

Tá, eu sei que sou um péssimo amigo. Deixei de fora dos meus links MUITA gente boníssima que leio com freqüência.

E aí? Farta alguém?

Cadernos de Acadjimia - Capítulo 2 - Do contingente feminino



    Academia, a priori, é lugar de mulher. Foram elas que começaram essa história toda. Malhar para queimar as gorduras acumuladas em décadas de opressão via tanque-cozinha-sala-de-parto-igreja. Mas o motivo não era ficarem melhores para si mesmas, e sim para os machos caçadores. Advindas da geração que popularizou o divórcio, precisavam se manter competitivas na disputa pela preferência masculina mesmo após conquistarem o direito de ir e vir com quem bem entendessem. Eram, ainda, subservientes. As academias, templos onde se preparava para serem mais tarde sacrificadas em prol do ideal masculino de beleza.

    Hoje não. O número de mulherzinhas a fim de agradar o marido pançudo e meia-bomba em casa é bem pequeno. A maior parte quer mesmo é ficar gostosa porque quer. Porque quer se sentir assim. Porque quer competir com a filha adolescente. Porque quer ser melhor que as amigas. Porque quer que o bisonho do companheiro tenha ciúmes dela quando um garotão grudar os olhos nela durante uma volta pelo shopping. Porque quer poder usar roupas quatro números menores. Porque tem motivos de sobre para fazer tudo isso e muito mais.

    - Amiga, consegui levantar sete quilos hoje!
    - Nossa, não acredito! Deixa ver. Que beleza, hein?
    - Aí, tô realizada, sabia?

    As duas aí de cima são ratas de academia, daquelas que andam pra cima e pra baixo pela sala de musculação com pesos amarrados na panturrilha, envoltas em colants tão justos quanto Salomão e cabelos bem cuidados. Vivem para isso. Se realizam ao levantar pesos, tem braços e pernas bem torneados e forte. Deus me ajude se um dia levar uma chave-de-perna de uma delas! São personal trainers de homens babões, para os quais não dão moral alguma. Elas se bastam, uma mistura heterogênea de hedonismo concentrado bem fundamentado. Agem como sargentos consigo mesmas e não se permitem risos durante o tempo que passa por lá.

    Mas há aquelas que encaram de outra forma. A academia pode se também um parque de diversão, uma extensão da sala de espera de um consultório ou da manicures. Enquanto fazem esteira (e como fazem!), engolem oxigênio apenas quando o assunto acaba. E assunto não falta. Do roupa que a Ana Maria Braga está usando naquela manhã até a fulana que injetou silicone.

    A garota passa, sorridente, lépida, cumprimenta o grupo ombreado que correr sem sair do lugar e desce. Uma vira para outra e comenta.

    - Você viu? Ela colocou silicone.
    - Ah, é?
    - Claro! Pelo visto, 300ml em cada peito.
    - Verdade? Mas ficou bom, né? Nem parece.
    - Não sei, não. Ela é muito pequena para tanto. Acho que ficou exagerado.
    - Ai, eu também queria colocar. Mas tenho medo, vai que...

    Bom, o bebedouro me espera.

terça-feira, agosto 22, 2006

Machismo


    Calça jeans. Camiseta preta. Lentes de contato. Óculos escuros. Cabelos soltos. Coturno esfolado. Um hardrock setentista qualquer. Todo tempo do mundo para perder. Ninguém para dividir opniões. Long neck suada. Uma pista qualquer para não ter onde ir. Cair da tarde.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Cadernos de Acadjimia - Capítulo 1 - Do início


    Exercício físico é um troço sacal. Um lugar que reúne um monte de gente para fazer exercício físico pode ser considerado então algo simplesmente aterrador. Tem gente que morre de medo de dentista. Outros, de fazer baliza. Um bom número se pela só de ouvir falar em exame e próstata. E outro tanto se caga só de ouvir falar em uma academia de ginástica.

    Eu em encaixo em alguns destes grupos, mas especial no último. Tenho pavor de academia. Aquela clima veladamente opressor, que te joga pra baixo sempre que você levanta a cabeça. Sim, porque sempre que você levantar a cabeça, num movimento talvez de resgate de auto-estima, vai dar de cara com alguém mais forte, mais magro, mais bonito, menos suado ou, no mínimo, com uma bunda melhor que a sua. E isso, convenhamos, não é nada motivador.

    Porém, alguns males se fazem necessários. Como decidi não ir mais ao dentista e não fazer mais baliza, precisa, até por uma questão de honra, encarar uma academia. Dos males, o menor. Afinal, dente podre pode ser reposto, e estacionamento com manobrista é o que não falta no centro da cidade. Mas condicionamento físico, ah, isso ninguém pode fazer para alguém.

    E foi exatamente esse o motivo que me levou a um desses templos do hedonismo pós-moderno, em minha, vejamos, duodécima tentativa de permanecer mais que um mês no meio da peculiar fauna coberta de lycra que habita cada metro quadrado do lugar e respira os mesmo metros cúbicos de oxigênio viciado. Precisa, aos 25 anos, me prevenir de futuros imprevistos de ordem sexual. Sim, sexo foi o que me motivou a começar a acordar às oito horas da madrugada e rumar, cambaleante, ruminando qualquer tubérculo, para uma academia.

    Porque sexo é o único tipo de atividade física que me permito nos últimos, vá lá, 3 anos, quando protagonizei minha última estadia em uma academia. Desde então, venho me empenhando em aperfeiçoar o barato, refinando e aprendendo técnicas, aumentando ou diminuindo proporções, estudando movimentos, pesquisando a respeito, avaliando situações, definindo prioridades, enfim. Entrando de cabeça, com o perdão do trocadilho. Só que para tudo isso, é preciso fôlego. E fôlego é algo que não se encontra nas porções de medalhões de bacon com molhor rose regados a dúzias de cerveja às 4 da matina de sexta-feira.

    Fôlego está intimamente ligado ao condicionamento físico. E condicionamento físico quer dizer fazer exercícios físicos, que é um troço extremamente sacal mas, pelo visto, necessário. Porque, por enquanto, dou lá minhas 2 ou 3 segurando legal até o final. Mas e daqui há 10 anos, quando meu organismo parar de absorver meus abusos com a facilidade de hoje? Para onde vai a cerveja que, é fato, não vou parar de tomar com os camaradas? E os beliscos irresistivelmente gordurosos? Dúvido que minha rotina de trabalho, que é ficar sentado o dia todo dando nó em pingo d´água, irá mudar.

    Por isso, resolvi me precaver. Não quero chegar aos 30 e poucos dando malemá uma bimbada, deitando pro lado com a língua de fora, arfando feito um cachorro com sede. Tá loco, neguinho! Porque se sem uma coisa que não se pode abrir mão é de sexo. E precisa ser intenso, forte, visceral, feito com todos os órgãos, partes, dobras, membros, glândulas e sistemas do corpo. Senão, é punheta. E até para uma bela punheta, sejamos francos, é preciso fôlego.

sábado, agosto 19, 2006

Espelho


    Queria te odiar. De verdade. Do fundo do coração. Com todos os chavões possíveis e imagináveis. Depois, te ignorar. Chutar essa mão que insiste em estender sempre que eu passo. Cuspir nessa sua cara lavada. Te humilhar na frente dos teus amigos, te desmentir para recém-conhecidos, te difamar para estranhos. Largar de uma vez esse fardo que é a sua lembrança e me assalta a cada esquina que cruzo. Parar de me policiar toda vez que ouço aquele acorde no meio da noite e os olhos umidecem e o rosto esquenta. De medo. De vergonha. De vontade. De saudade. Porque sempre que eu penso nos seus pêlos, meu estômago embrulha e meu pau endurece. É quando nada parece fazer sentido que tiro desse fundo de poço que enfiei minha mente a força necessária para segurar o vômito que sua imagem me faz querer botar pra fora. Onde coloquei a maldita bolsa de viagem cheia de maus pensamentos que tinha guardado para quando sua boca aparecesse na minha retina e me tirasse para dançar nessa pista mal iluminada e cheia de cantos escuros e promissores que são as suas dobras? Porque posso sentir sua respiração marcando os meus batimentos cardíacos nas noites que os copos esvaziam na mesma proporção que minha descência escorre pela declaração invisível do amor incondicional por mim mesmo. Assino com sangue, suor e sêmem este contrato que disponho das minhas faculdades em troca de um espelho, que não consigo quebrar e que se mantém onde sempre esteve: na minha frente.

quinta-feira, agosto 17, 2006

TODO mundo


    TODO mundo que...

    ... comprou o primeiro disco do Velvet Underground, montou uma banda

    ... leu "Tanto Faz", do Reinaldo Moraes, virou escritor

    ... assistiu a "Top Gun", quis ser piloto da Marinha norte-americana

    ... comprou a Playboy da Marisa Orth, se arrependeu

    ... viu o Pelé jogar virou santista

    ... viveu os anos 60, não se lembra disso

    ... jogou "Wolfenstein 3D" quis sair atirando pela vizinhança

    ... teve vinil dos Beatles inverteu a rotação atrás de mensagens subliminares

    ... dirigiu um Fiat Uno, nunca mais comprou um Fiat

    ... assistiu a "Titanic", chorou ou serviu de lenço

    ... fez a brincadeira do copo, ficou sem dormir a noite

    ... tomou glicose na Unimed, adorou e pediu mais

    ... dançou a coreografia de "Macarena", nega veementemente

quarta-feira, agosto 16, 2006

Eu e os outros


    Alugar filme pornô ainda me custa. Não deveria, mas custa. E estranho, parece que piora a cada ida à locadora. O motivo, creio, é porque comecei a me preocupar com a opinião alheia. Com os possíveis comentários que meu ato irá deflagrar quando eu virar as costas em direção à saída. E isso me preocupa.

    A primeira vez que aluguei um filme pornô faltavam coisa de doze horas para eu completar 18 anos. Era uma sexta-feira, eu estava de férias do trabalho e minha namoradinha morria de curiosidade sobre o que havia além dos pornô softs dos fins de noite saturninos da Bandeirantes. Decide resolver o problema dela, claro.

    Na cidade, duas filiais de grandes cadeias de locadoras haviam se instalado praticamente ao mesmo tempo. Minha mãe, preocupada com o estofo cultural dos seus pimpolhos, logo abriu ficha em uma delas. Eu, óbvio, não sabia em qual. Apenas tinha a informação de que, em alguma delas, que distavam coisa de um quarteirão uma da outra, o nome de mamãe me abriria uma porta que jamais se fecharia.

    Resolvi arriscar. Pedalei coisa de 4km até a primeira. Entrei então num mundo bem diferente daquele que estava acostumado. Diferente das velhas locadoras de bairro, com as paredes forradas de cartazes amarelados noticiando o lançamento de cacarecos, atendentes que anotavam a saída das fitas em fichinhas de papel-cartão ocre, e parca iluminação, a nova loja era limpa, ampla, iluminada e com lançamentos em profusão.

    Localizei o que buscava e fui direto. Dentre as milhares de carnes alí expostas para a venda, me fixei num título. "Aposte seu Bumbum". Aquilo parecia ser bom. A sinopse dava conta de uma rodada de pôquer onde os jogadores literamente colocavam os seus na reta. Devia ser muito bom.

    Vou até o caixa. Uma mulher com uma camiseta de propaganda de algum filme e longos cabelos negros e com permanente pergunta meu nome. Digo. Nada consta no sistema. Digo o da minha mãe. Menos ainda. Opa. Falo o do meu pai. Necas. O do meu irmão, talvez? Sem chance. Ela sorri amarelo. Digo que vou ver o que aconteceu e volto mais tarde para levar o filme.

    Era a outra locadora, claro. Pedalo até a outra loja. Entro, destemido, sem desviar o olhar do reservado para os pornôs. Pego o primeiro que vejo na frente. "Potrancas Européias no Cio". Caraca. Na contracapa, o texto dizia se tratar da primeira experiência de atrizes européias nos EUA. Hum, intercâmbio, porque não?

    Vou direito para o caixa. O atendente, um rapaz com pouco mais que a minha idade, pergunta no nome de quem está a ficha. Digo o da minha mãe novamente. Funciona. Beleza. Sem mais perguntas. Ele ensaca a fita e eu saio voando baixo para avisar a namoradinha de que o ovo estava no ninho.

    Agora, quando entro na mesma locadora, com o mesmo objetivo de há sete anos atrás, meu estômago embrulha. Sinto suar frio, a boca secar, os dedos estalarem uns nos outros. Na minha cabeça, rasgam pensamentos que vão desde os outros freguêses que estão a escolher seus filmes até as atendentes e caixas.

    O que será que a garota do caixa que der baixa na minha locação vai comentar com a companheira ao lado? "Tu viu o que aquele cara alugou? Nossa, deve ser o maior punheteiro, não deve pegar ninguém". Então penso que deveria, então, alugar algo para impresssionar, como um Bertolucci, um Truffault, talvez um Almodóvar... mas aí acho que então elas teriam certeza que não pego ninguém mesmo.

    Porra, a garota do caixa sequer troca um olhar com você durante o horário de pico. Ela está contando as horas para sumir dalí e dar umas bandas, fofocar frivolidades com as amigas, aprender um novo ponto de bordado ou dar uns malhos com o namorado. Pouco importa se o sujeito alugou "Rambo 3" ou "Siamêsas Albinas Tesudas de Bariloche Encaram Gang-Bang com 10 Negros". Talvez de tanto verem o mesmo título ser locado, pensem, no máximo, que devam também assistí-lo, pois deve ser bom. Ou evitá-lo, por ser tão popular.

    E há também o lado do "foda-se o que vão pensar, a vida é minha e faço o que quiser dela". Claro que não é assim. Se fosse, estaria morando no alto do Himalaia. Mas até lá precisaria me preocupar em agradar algum cabrito montanhês faminto. A questão é saber o ponto onde isso é uma constatação pura e simples, porém necessária, e onde se torna um impedimento, uma trava.

    Meu impulso de agradar a caixa da locadora, buscando sua aprovação através de uma locação de alguma obra "respeitável", "inteligente", me remete as boas notas que tirava na escola apenas para agradar meu pais ou um comportamento passivo adotado para ser aceito em algum grupo. Não era eu. Era um ator, interpretando o papel que outros me impunham, tentando não frustrar suas expectativas, tentando realizar seus sonhos. Mesmo que para isso, fosse preciso abrir mão de mim mesmo.

    Ou, talvez, no fundo, esteja me tocando que alugar filminho pornô a essa altura é mesmo risível.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Nu com a mão na Heineken

Vou ficar pelado


    Numa dessas apostas que surgem entre amigos, durante rodadas de cerveja, me dei mal. Não me lembro sequer o que deixei de ganhar. Apenas me lembro que perdi. E a preço, para quem perdesse, era se mostrar, como veio ao mundo, na World Wide Web. Mas como essas coisas dão trabalho, a publicação do meu primeiro nu virtual virá só amanhã. E vai ser só uma foto, porque o combinado foi esse. Nu frontal, claro, e com os cabelos soltos. Posarei - essa era outra condição da aposta - com uma garrafa daquela cerveja que tem um nome esquisito, uma estrela vermelha como símbolo e a embalagem é verde. Bão, seja o que Alí quiser.

quarta-feira, agosto 09, 2006

De repente, deu vontade de fazer ioga

Revista nova (?) chegando


    O mercado editorial brasileiro é cruel. E em se tratando de revistas, parece que o único tipo de publicação que possui demanda por aqui é o voltado para escarafunchar a vida de gente que parece viver para ter a vida escarafunchada. Futilidade, enfim. Para que, como eu, gosta de música e ler a respeito, a coisa se torna mais desesperadora ainda. Entretanto, parece que isso está para mudar. A notícia é que a Rolling Stone, mítica publicação norte-americana, está para ganhar edição nacional. E isso merece algumas considerações, talvez até previsões. Boas e nem tanto.
    Para começar, revista de música hoje no Brasil atende pelo nome de Bizz. Em sua gênese, a publicação foi o celeiro de uma galera que praticamente fundou o jornalismo musical no país. Hoje, é uma panelinha, formada por gente comprometida com gravadoras, dependente de sobras e que pode voltar a desaparecer a qualquer momento. Tanto que nem assinatura possui. Logo, ler sobre música em papel é tarefa ingrata. Por isso, nada mais natural que migrar para a Internet, que abriga gente muitíssimo mais capacitada, interessante e inteligente riscando sobre o assunto. Agora, com a chegada de uma revista do porte da Rolling Stone, algumas pedras podem rolar, com o perdão do trocadilho.
    A revista, fundada na segunda metade dos anos 60, foi responsável por divulgar boa parte da revolução cultural que varria a época e auxiliar na formação de gente que mudaria para sempre a maneira de falar sobre música. Para ficar em dois exemplos, a casa abrigou tresloucados como Lester Bangs e Hunter Thompson, sujeitos que jamais teriam lugar em grandes publicações e que prestaram relevantes serviços para o meio através de uma prosa ácida (no caso do primeiro) ou movida a ácido (no caso do segundo). Mais do que falar de música, a RS cultiva o bom hábito do jornalismo literário, não se restringindo ao superficial da notícia. Aborda política, comportamento, moda, cinema, artes, seguindo uma abordagem diferente, provocativa, até ousado.
    A grande questão, no entanto, é saber quem irá fazer a parte local (a revista terá metade do seu conteúdo traduzido da edição gringa e outra metade produzida aqui). Se seguir a linha de sua origem, vai dar banana para essas figurinhas carimbadas, que já deram tudo o que tinha que dar, e irá buscar gente nova, com idéias frescas e sem rabo preso. Se fizer isso, vai ser uma revolução tão grande quanto a que causou lá fora quando nasceu. Mas, se colocar embaixo das suas asas o mais do mesmo que freqüenta os cadernos de cultura da grande mídia, a decepção vai ser maior ainda.
    Mas é preciso dar nomes ao bois. Eu não quero, por exemplo, o Pedro Alexandre Sanches que, a despeito de possuir um dos melhores (senão o melhor) texto de jornalismo cultural do país, pratica o mesmo texto chapa-branca que glorificou Nelson Motta. É praticamente um negativo de Bangs, que detonava sem perdão mesmo as bandas de cujos músicos era amigo. Se é ruim, toma no lombo. Sem firula, sem medo de perder a boquinha.
    Não quero também o Lúcio Ribeiro e sua propensão a gostar de tudo o que surge na cena indie do eixo EUA-Inglaterra. Seu excesso de exaltação chega a ser um insulto para qualquer pessoa com mais de dois neurônios. É um fabricante de hypes, dessas pretensas salvações do rock que não duram um verão, quando muito. Ir atrás de novidade é saudável, mas transformar qualquer bandinha de moleques em ícones da nova era apenas porque a imprensa gringa o faz, é muita subserviência.
      Por outro lado, gostaria muito de ver a prosa crítica e cheia de vida da Clara Averbuck, seus textos desbocados, sua autêntica despretensão. Ou o mestre-mor do Bia, Cardoso, que se enveredou pela carreira de ator e agora paga, de pijama, de telefone móvel. Do mesmo ninho, dá para citar ainda o Daniel Galera. Isso só para ficar no sul do país.
      O fato é que material humano tá saindo pelo ladrão. Se os caras que estão armando a vinda da RS pra cá forem espertos, como espero que sejam, cair matando direto nos blogspots, bloggers, bligs, e verbeats da vida atrás de ar fresco.

    Underwear

    Chegou toda lépida, olhando para o relógio. Lambeu minha orelha e enfiou a mão dentro da minha braguilha. Arrepiei. Quis morder. Ela se afastou, indicando a quebra do acordo. Aquiesci. Ela colocou o pé esquerdo no meu peito e rasgou a meia-calça preta com detalhes em alto relevo. Fez o mesmo com o pé direito. Tudo sem tirar os sapatos de salto. Cerrei os olhos. Segurei a vontade de xingá-la. Respirei fundo. Ela arrancou o espartilho. Auréolas rosadas, pontudas como Queóps e Miquerinos. Ah, as aulas de geografia. Soltou o gancho da saia e, num único movimento, retirou o pedaço de pano cor ocre. Silêncio absoluto. Era possível ouvir o suor se acumulando nas minhas costas. Sob o reflexo, notei que um filete de água escorria pela orelha esquerda dela. Tentei lambê-lo. Ela olhou feio. Mais uma dessa e tudo terminaria tão rápido quanto havia começado. Acendeu um cigarro e o deixou queimar na mesa de madeira de compensado vagabundo, coberta de fórmica vermelha desgastada. Arfei como um bovino cansado. Risos. Depois de muito custo, notei que estava sem calcinha. Levantei. Ela fez menção para eu me sentar novamente. Tirei duas notas azuis novas da carteira, deixei sob a mesa e lancei-lhe um olhar de reprovação. Calcinha é tudo nessa vida. Até para quem vai tirar.

    segunda-feira, agosto 07, 2006

    Lagartas de pedra

    Já disse e repito: não tem lugar melhor para consumir cultura que nas Lojas Americanas. Não é exagero. A rede pode não ter a variedade de uma Fnac, ou o atendimento de uma Siciliano, mas, putz, é campeã no preço. Nisso é imbatível. Dá até pra esquecer a cupidez dos atendentes, que, sem sua maioria, sequer sabem consultar o catálogo digital da loja e vão logo dizendo "não tem" antes mesmo de você perguntar pelo produto.

    O lance é que, de tempos em tempos, o sujeito que faz os pedidos surta e pede algumas peças que são, no mínimo, impressionantes. Tanto que nunca vi um acervo tão grande da discografia do Jetro Tull (encalhada, evidentemente) em uma loja de shopping popular. Até cheguei a questionar uma atendente sobre a quantidade de discos da banda do flautista perneta. A resposta: "Ah, não sei. De vez em quando vem essas coisas". Tá explicado, querida, pode voltar a ouvir sua coletânea de temas de novela.

    Mas não é raro encontrar coisa realmente boa. Jimi Hendrix, Janis Joplin, Ray Charles e B.B. King, Clash, John Lee Hooker e Buddy Guy são alguns que podem ser encontrados a preços abaixo de trinta mangos. Mas os Rolling Stones são campeões. Tanto na variedade quanto na relação custo/benefício.

    Da fase amada pela crítica, por exemplo, eu já encontrei a módicos R$ 19,90 as obras Their Satanic Majesties Request, Exile On Main St e Sticky Fingers. Além de It's Only Rock 'N Roll, Black And Blue e Dirty Work. E sobram aos baldes coletâneas da banda, sempre a custos atrativos e, cá entre nós, muito bem pagos por se tratarem de compilações caça-níqueis.

    Entretanto, na minha busca semanal por algo novo, me deparei com Metamorphosis.


    "Caralho", pensei. "O disco não consta na discografia oficial elencada no site. E também nunca ouvi falar de tal disco. Uadarrélisiti?". A etiqueta amarela indicava um valor acima do habitual, coisa de 38 paus. E eu já estava com Apocalypse Now Redux numa mão e o cartão de débito na outra. Gastar mais não constava nos meus planos.

    Acionei meu radar para picaretices. Seria um destes discos-tributos? Não havia nada que indicasse tal artimanha, ainda mais com esse preço. Tributos tendem a ser BEM baratos, o que não era, definitivamente, o caso. E havia a chancela da porca da ABKCO, responsável pela melhor parte do catálogo dos Stones e sazonais relançamentos do mesmo. Uma olhada cuidadosa concluiu que não poderia ser uma compilação de hits tocada por alguma orquestra, já que hits não haviam ali. Resolvi arriscar e levei o embrulho. Pelo menos a capa era bonita, bolas!

    Mas qual não foi minha surpresa, ao colocar o CD para rodar o aparelho do carro, que era realmente Mick Jagger quem cantava. O encarte, paupérrimo como é de praxe da ABKCO, constava uma lista de agradecimentos para gente como Phil Spector, John Paul Jones, Jimmy Page, além de todos os Stones vivos e mortos. Aquilo me intrigou. Seria uma coletânea de lados B? Restos de gravação, talvez?

    Fui para a Internet. Tava . Metamorphosis, o disco renegado dos Stones. Lançado em 1975, continha restos de gravações de 1964 a 1969, ou seja, o cerne do legado stoniano. E como em tudo o que envolve os sujeitos o que não falta é sujeira, a história do disco segue a mesma linha. Allen Klein, um fanfarrão que na época já havia tapeado os Fab Four, se apossou do catálogo da banda anterior a Stick Fingers e despejou o disco no mercado. Muita porradaria judicial depois, os Stones conseguem banir a coletânea. Mas Klein já havia adquirido legalmente as músicas e fundado, com sua esposa Betsy, a famigerada ABKCO (Allen and Betty Klein and Company). Claro que o dinheiro falou mais alto e aí...

    ... a bolacha foi relançada em 2002, em comemoração a turnê Fouty Licks. Só que não deve ter vendido nada, ao contrário da época de seu lançamento, quando alcançou boas posições no mercado norte-americano. Resumindo, são Mick, Keith, Watts, Jones e Wyman tentando soar como os Beatles ao mesmo tempo que buscam uma identidade sonora própria. Tem até espaço para uma cover de Steven Wonder ("I Don´t Know Why") e uma composição só de Wyman ("Downtown Suzie").

    O restante das composições são da dupla Jagger/Richards. E dão o tom de um verdadeiro disco dos Rolling Stones, como em "Family", única das faixas que eu conhecia por constar, na mesma versão, numa coletânea tão picareta quanto interessante denominada Acoustic Motherfuckers, mas que de acústico não tem nada. Já de filhadaputice...

    Dezzesseis canções que não vão salvar a vida de ninguém. Mas que precisam ser ouvidas, pelo menos uma vez. Toscas e gravadas como dava, elas representam o que os Stones tinham de melhor: sua autenticidade. Enfim, coisa do passado.

    Sonhos molhados

    Ui!
    Abra sua alma e feche suas pernas.
    Do teu corpo quero o que não vejo.
    Tem mais aqui.

    quinta-feira, agosto 03, 2006

    Welcome to the jungle

    Noite de quarta-feira. O São Paulo Futebol Clube massacra o Chivas, do México, em partida válida pela Taça Libertadores da América. Empolgado, meu irmão, integrante do baby boom de sãopaulinos pós-bi-Mundial, vibra. "Isso sim é time. Joga como se fosse uma empresa. Joga para ter resultado. Imagina o quanto um título desses vai render de patrocínio depois? Não é que nem o Corinthians, com aquela babaquice de amor à camisa".

    Corta.

    Imperatriz Leopoldinense é campeã do Carnaval Carioca. Os meios de comunicação dão conta que a vitória da agremiação foi devido um desfile considerado técnico. Ivo Meireles, presidente da Mangueira, declara que "a Mangueira perdeu porque desfilou com o coração".

    Corta.

    Primeiro DVD da caixa Four Flicks, dos Rolling Stones. Mick Jagger discute com sua equipe sobre os palcos da turnê da coletânea ao vivo "Forty Licks", que teria estruturas individuais para apresentações em clubes, ginásios e estádios. Um dos engravatados diz que foi sempre assim. Jagger sempre esteve à frente dos negócios da banda, gerenciando cada centavo que entra e que sai. Um Donald Trump do rock´n´roll.

    Corta. Edita.

    O que o time do São Paulo, a Imperatriz Leopoldinense campeã e Mick Jagger tem em comum? Profissionalismo. Nenhum deles está interessado em jogar para a torcida, levantar a Sapucaí ou angariar novos fãs. Inegável que todos amam o que fazem. Mas não são idiotas. Diferente do Corinthians, da Mangueira e dos Beatles, eles sabem viver (e sobreviver) no sistema capitalista.

    Pouco importa se o goleiro não gosta do zagueiro. Não interessa se o mestre-sala desaprova a porta-bandeira. E vai ficar para segundo plano a eterna relação de amor e ódio entre Mick Jagger e Keith Richards. O que está em jogo é a movimentação de um negócio que precisa virar. Precisa gerar divisa. Tem que dar lucro. Independente das idiossincrasias de cada componente. O time, a escola e a banda são maiores que os indivíduos que os formam.

    É preciso saber jogar o jogo. E isso não é nada fácil. Principalmente quando tudo o que se tem é um punhado de referências tortas e uma vontade insana de mudar o mundo. O que não pressupões tornar-nos todos um bando de burocratas bundões, autômatos sem vontade própria alienados pelo sistema. Ao contrário, é preciso aprender a interagir de acordo com as regras que estão prontas muito antes de se entrar no jogo.

    Aprender isso, acreditem, está me custando mais do que eu posso pagar. Esse jogo é para gente grande. E crescer dentro dele é pior do que se imagina.

    quarta-feira, agosto 02, 2006

    Momento Stendhal

    - Sou o diabo.

    - O nariz. Tô ouvindo U2 no talo.

    - Para o carro pra gente conversar.

    - Não posso. Tô com pressa.

    - Hã?

    - Preciso chegar em casa antes do meu irmão pra poder usar o computador com Internet. Depois que ele chegar, vai dizer que precisa trabalhar e aí já era. Só amanhã.

    - É importante. Diz respeito a grande verdade que cobre o universo e todas as perguntas jamais feitas cujas respostas foram se perdendo nas brumas do infinito.

    - Sacanagem é importante, bicho. E é por isso que estou correndo. Vi um videozinho amador muito massa para baixar no Só Putaria. Vou me acabar hoje.

    - Pare o carro, já disse.

    - Vai a merda, véio. Se liga. Ei, como tu entrou no meu carro?

    - Já disse que sou o diabo.

    - Mas eu tô ouvindo U2! O Bono anda sobre as águas, bicho. Ainda se fosse Harmonia do Samba...

    - Sou o diabo. Mas tenho bom gosto.

    - Então numa coisa concordamos. Legal. Sobre o que estávamos falando mesmo?

    - Preciso te dizer sobre a verd...

    - Ah tá, lembrei. Mas hoje não, véio. Tô louco pra chegar em casa e baixar o videozinho. Não tem como marcarmos outra hora? Melhor: me manda por e-mail. Eu acesso direto, te respondo na boa. É sério.

    - Esquece. Para o carro que eu vou descer.

    - Mas tu não é o diabo? Sai da mesma forma que entrou, carai...

    - Não é tão simples assim.

    - Eita. Tu tá me enrolando. Ó, tamo quase chegando. Espera só eu abrir o portão. Essa merda de controle sempre dá defeito, peraí... Ei! Ei! Fecha a porta pelo menos.

    Coisas que me fogem do controle (e precisam ser explicadas)

    O post abaixo dava conta da minha felicidade por ter, finalmente, conseguido a discografia oficial dos Beatles. Ou The Beatles, como preferem os mais puristas e/ou bestas. Mas rapidamente notei que, quando se trata de unanimidades, todo cuidado é pouco. É como pisar em ovo. Ovos de aves de rapina, que já nascem bicando pra dentro o primeiro naco de carne que encontram pela frente.

    Primeiro foi o inoxidável Rafael Galvão, que me deu um toque quase proctológico, dedo em riste como lhe é de costume: "na sua discografia (se for aquela que está no post) faltam 4 álbuns: o Live at BBC e os Anthologies I, II e III. Faltaria ainda o Let it Be... Naked, mas esse disco é uma fraude nojenta e deve ser evitada a todo custo". Nessa, ele me mata duas vezes com uma porrada só. Primeiro, fazendo desmanchar minha tentativa de salvar minha alma ao apontar que me faltam peças na obra que considerava completa e fechada. Segundo, ao dizer para evitar um dos poucos discos que tenho originais do quarteto. Resumindo, terei que esperar um pouco mais por salvação. Mas, ainda assim, ela não me parecia assim tão distante. Coisa de um link ou dois, nada mais.

    Mas eis que, do nada, surge . , que já conhecia de passagem nas caixas de comentário no reservado de MJ, lasca sem dó: disco dos Beatles tem que ser original. Em sua prosa firme e determinada, que pode ser conferida e auferida a qualquer momento em sítio próprio, decretou a extinção quase completa de minhas esperanças de salvação. Se soubesse fazer trocadilhos em inglês, diria que ela trocou minha hope por uma rope.

    Devo concordar com ela. Sigo essa linha de pensamento para quase todos os grandes nomes que acredito terem feito a diferença na música. Rolling Stones, só original. Led Zeppelin, só original. Oasis, idem. Nirvana também. Hendrix e Joplin certamente. Então, porque teria eu a pachorra de fazer distinção justamente com os maiores?

    Grana. Pô, disco dos Beatles é caro pacas. Consigo encontrar, por exemplos, clássicos absolutos dos Stones (Exile on Main Street, Stick Fingers, It´s Only Rock´n´Roll) por R$ 19,90, R$ 29,90 nas Lojas Americanas. Já contei da vez que encontrei um duplo do negão canhoto por R$ 19. Mas quando o assunto é Beatles... não tem choro. Nunca sai por menos de R$ 40 em média. E isso qualquer bolacha, sem distinção de fase, ano ou capa. É tudo inflacionado.

    Mas isso não é desculpa. Vou fazer o que a me pediu e, ao longo de minha existência, irei substituindo as cópias pelos originais.

    Tá bom assim, galera? Posso voltar a brincar com vocês agora? Prometo não chutar mais a bola pro mato, tá?

    terça-feira, agosto 01, 2006

    Agora eu também tenho um White Album

    Minha alma está salva. Tenho a discografia oficial completa dos Beatles. Não, não é original. É baixada. Mas devidamente armazenada em disquinhos e com capinhas caprichadas.

    Para quem quer evitar o inferno certo, tá aqui o link para as obras.

    Amém.

    Uma pergunta para Rafael Galvão

    Galva,

    "Taxman", dos Beatles, pode ser considerada a fonte de inspiração para a música-tema da série "Batman", com Adam West e Burt Ward?

    Heresia?

    Quem resta comida no prato faz Jesus (para o Bia) ou Dom Bosco (para o Denitcho) chorar. Eles não gostam de desperdício quando tem tanta criancinha na África passando fome. E fazer um deles chorar é pecado, evidentemente.

    Mas e restar um livro? Será que alguma figura cristã vai chorar se eu não terminar de ler um livro e jogar ele fora? Afinal, tem tanta gente no mundo sem ter o que ler, carente de leitura, que não me causaria espanto uma entidade sobrenatural ser contrária. Hum, talvez Mary Jane, pelo seu amor incondicional pelas letras... Porque quando digo jogar fora, digo enfiar num saco plástico, dar um nó na ponta e colocar na cestinha para o lixeiro levar.

    Porque foi exatamente isso que fiz com "O Diário de Marise - A vida real de uma garota de programa". O CARTAPÁCIO tem inacreditáveis 415 páginas de uma prosa chatíssima em letra miúda, daquelas que, a cada virada de folha, te faz olhar a numeração para ver se já está acabando. Não dá. Simplesmente não dá.



    A obra vem na esteira, claro, de "O Doce Veneno do Escorpião", da hoje ex-puta (?) e atual apresentadora de canal pornô e candidata favorita à cadeira na ABL Bruna Surfistinha. E o problema começa aí. O livro da garota que atendia num flat nos Jardins em São Paulo deve grande parte de seu sucesso ao blog que o precedeu. Ela já tinha um nome forte na Internet e havia sido capa de sites e revistas de grande porte, como o No Mínimo e a Isto É. Logo, colocar no livro o que ela já tinha no site era certeza de sucesso, pois atingiria um público que não acessa a web e, como todo ser humano, é pelo menos curioso com relação a sexo. Ainda mais uma compilação de contos pornográficos que, em tese, são reais.

    O que não acontece com Marise. Ninguém a conhece. Seu livro vem para alimentar um mercado complicado, que é o de literatura ligada a sexo. Não necessariamente erótica, porque a obra está mais para uma autobiografia com tudo aquilo que todo mundo está careca de saber. A garota que precisa de dinheiro para terminar os estudos, se cansa de ralar em subempregros e entra no mundo da prostituição, onde conhece sujeitos asquerosos e passa por situações-limite, mas consegue sair do lamaçal e vai viver feliz para sempre, cheia de boas intenções e lições aprendidas. Só falta um Pangloss na história toda.

    É fácil, portanto, perceber que é preciso bem mais que um XXX subentendido para vender. Bruna vendeu e se tornou um sucesso também porque seu livro é curto, rápido, intenso, e dá pra ler no banheiro numa sentada só. Já Vanessa é pura choradeira, lamentações sem fim, quase um arremedo de drama mexicano. Dá pra prever como será a próxima frase sem nem começar a anterior.

    E a chamada da capa promete, claro, um mundo de delícias. Como se recortado da sessão de classificados de algum jornal, está lá: "Marise. Ruiva, olhos verdes, universitária. Linda". Aí tem o site, onde dá para ver algumas belas fotos, bem produzidas e tal. Mas nenhuma de rosto. Na contracapa do livro é possível ter uma idéia dele, mas ainda assim, bem distante dessa realidade. Brrrrr...

    Então, se alguém quiser essa preciosidade, me envia um e-mail. Eu vou dar abrigo e água para ela até sexta-feira, quando, sem me preocupar com qualquer entidade civil, militar ou eclesiástica, depositarei o mesmo num grande saco preto.