I'm Winston Wolfe. I solve problems.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Daniela

Daniela é uma puta. Como todas as mulheres de verdade, ela é uma puta. Mas não porque faz sexo por dinheiro, afinal, já tem sua profissão muito bem afinada com sua vocação. Tampouco por sair copulando a torto e a direito, pois isso não faria dela uma puta, e sim uma vadia. E nem toda vadia pode ser uma puta. As putas de verdade não são vadias. São mulheres. E toda mulher de verdade é uma puta. Uma puta porque sabe como transformar garotos em homens, e homens em garotos. E Daniela, como boa puta que é, me transformou em homem.
Na avenida mais movimentada da cidade, numa noite de Natal chuvosa, me obrigou a estacionar entre dois carros. Eu, que mal havia conseguido minha permissão para dirigir. "Vai, bota o carro aí ou não vai ter isso aqui", disse, levantando a saia e exibindo a renda de uma meia 7/8 preta e o início de uma cinta-liga. Quinze minutos depois, lá estava o Santana 2.0 1999 do meu pai encaixado rente à guia. Daniela foi a primeira mulher que me fez fazer uma baliza. E também a última.
Juntos, ela não me deixava ir além de uma nesga de seio, cujos mamilos rosados me faziam ter a maior das ereções. No máximo, me permitiu masturbá-la uma vez. Jamais tocou em meu sexo. Sequer tirou-me as calças. Chegou, sim, ainda na mesma noite e na mesma avenida, a insinuar um toque, subindo em meus quadris e enfiando 2/3 de dedos dentro de minha cueca, enquanto empinava o nariz, desafiadora, e lambia os lábios. Foi o suficiente.
Suas pernas, logo, nunca me foram abertas de fato. Embora gostasse de entrelaçá-las em minhas costas, simulando um coito infantil e imprestável, nunca chegamos as vias de fato. Como diria Caetano, fazíamos um sexo não-ortodoxo a nosso modo. Ou ao modo dela, para ser mais preciso. Ela era a puta. E eu, o garoto que precisa ser transformado em homem. E ainda assim, sem nunca tê-la jamais penetrado, sequer sentido o cheiro de seu sexo, após uma noite com ela, me sentia o mais deflorado dos homens.
Mesmo não sendo mais virgem à época, era como se ela tivesse sido minha primeira mulher.
Mas Daniela é uma puta. A mais perfeita das putas. Me fez dançar Emílio Santiago num antigo boteco do shopping, e convenceu meu orgulho de que era melhor não sermos nada mais do que bons amigos.
Enfiada num tubinho preto de veludo, de mangas longas e barra acima dos joelhos, me levou, de calça-cargo, camisa do Kiss e blusa de flanela xadrez amarrada na cintura, para ver qualquer coisa no cinema numa noite chuvosa. Na volta, fez questão de correr até o carro apenas para se molhar e tirar a roupa. Não toda, evidentemente, mas o suficiente para mostrar sua carne alva em contraste com os cabelos e olhos negros. Olhos de puta. Olhos que sabem esperar, que não hesitam em serem cruéis e se fecham sem dizer adeus.
Então ela sumiu. Mastigou meu coração com algo do tipo "não sei", ou "sei lá".
Eu fui ouvir Rolling Stones. Ela casou. Mudou de cidade. Mas não perdeu a vocação de ensinar. Como puta nata que é, virou professora. Ensina para adolescentes imberbes o be-a-bá inútil das apostilas. Mal sabem eles o que estão perdendo. Eu sei.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Não, não e não

Isso não pode ser verdade. Não pode ser.

Meu inglês só pode estar me pregando uma peça. Eu li errado, tenho certeza.

Pelamor, se alguém realmente entender o que isso significa, me explica, tá? Vou estar ouvindo minha coletânea da Barbra Streisand...

domingo, dezembro 18, 2005

Tentativa de diálogo

- Como você não gosta de balada, gato?

- Ah, nem curto. Sei lá, princípios, entende? Quer dizer, eu...

- Putz, sou maior baladadeira. Segunda a segunda só na perdição, tá ligado?

- Ahã. Legal.

- Ai, meu, o som, a galera, a azaração, nossa, não vivo sem.

- Ah. É que meu lance é outro.

- Ah, sei. Tá.

- Só ouço aquilo que consigo cantar junto ou dedilhar, sabe? Então eu...

- Ah, gato, eu curto dançar. Nossa, me acabo na pista, tá ligado? Tomo uns daikiris e ninguém me segura, sabe? Nossa, não vivo sem uma balada.

- É, pode crer. Ahã.

- Fora que, tipo assim, sempre tem um gatinho pra gente dar uns beijinhos, trocar uns telefones e tal. Mas nada sério, tá ligado? Vou pra curtir mesmo, e tal.

- Ah, tá. É que é meio difícil conversar com alguém dentro de uma boate, e eu gosto de convesar, então prefiro nem entrar e...

- Pô, gato, mas ninguém tá lá pra conversar, né? A azaração é o que conta, tá ligado? Chega junto, fala qualquer besteirinha e se bater, se for um gatinho, rola alí mesmo, na pista.

- Ahã. É. Sei.

- Vamos em um monte, aí sempre rola um lance meio de desespero, sabe? Então é cada uma por si. Nossa, só risada. A turma é muito da hora, dou muita risada quando saio, tá ligado?

- É mesmo? Mas sabe que...

- Ai, nem tô vendo, sabe, gato? O lance é chegar, chegando, ir pra balada, curtir um montão, zuar mesmo. Eu sou assim, e tipo, sou eu mesma, na minha, totalmente sussa.

- Hã...

- Agora vou indo, gato. Hoje tem trance com pagode na Houzes e nem posso perder. Inclusive, ó, tô aqui com as cortesias pras minhas amigas e tudo.

- Ah, tá. Então tá. Eu só...

- Beijo, vô nessa. A gente se vê por aí.

- Tá...

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Essa juventude...

- Vô, que merda é essa?

- É um DVD.

- Dã... eu sei. Mas o que tem nele? Só tem uma língua desenhada...

- Ah, isso foi um culto coletivo que o vovô participou quando era mais novo. Já faz tanto tempo...

- Culto coletivo? Mas você é agnóstico.

- Não. A religião do vovô é a música. Mas você é muito novo pra entender essas coisas. O fato é que, nessa ocasião, os maiores pastores se reuniram para pregar e o vovô foi lá ver.

- Vou colocar, então, tá?

- Tá. Deixa só eu pegar meu Telex e minhas bolinhas. Pronto.

- Nossa, onde foi isso?

- Na Praia de Copacabana, numa cidade chamada Rio de Janeiro. É onde hoje é aquele enorme estacionamento coberto do Wal Mart.

- Caraca... e o quê é praia?

- Era uma faixa de areia com água do mar. É onde hoje é aquele imenso pântano cheio de criaturas radiotivas.

- Hã... Nossa, quanta gente, hein?

- Pois é. Na época, esperavam 1,5 milhão, mas é certo que ultrapassou os 3 milhões. Tinha gente de todo tipo e todas as intenções, mas a maior parte queria mesmo era ouvir a palavra de libertação.

- Desse cara pulando feito uma gazela? Coisa mais afetada...

- Olha a boca, moleque! Quer saber que gosto tem a madeira da minha bengala? Esse é o reverendo mor. Lava a boca antes de falar dele.

- Ô, vô, tá bom, tá bom... e esse outro tocando guitarra? Ele toca fumando?

- Ele fazia tudo fumando. Era o segundo na hierarquia. Tá vendo esse solo? Nessa hora, caí de joelhos e louvei com toda força.

- Eita...

- Olha alí! Olha alí! Pausa! Tá vendo? Olha o vovô alí, de bandana e calça jeans.

- E quem é aquele alí do seu lado com a cabeça enfiada na areia?

- Ah, era o seu tio-avô-de alma, o Denitcho. Nessa hora, ele estava entrando em transe. Como quase todo mundo, na verdade...

- E quando ele volta?

- Nem eu sei. Deve estar em órbita ainda, ou pousado em algum planeta bem melhor que esse. Às vezes, nossa cabeça é o lugar mais seguro para se ficar... Mas toca a fita. Digo, o DVD...

- E essa gostosinha de saia e bota? Putz, ela ergueu a blusa e mostrou os peitos! Locona...

- Nem me diga. Era uma amiga do vovô, sabe... Ei, olha o tamanho desse rapaz.

- Não é o Dringola? O papai fala bastante dele, tem tudo o que é CD dele.

- É, mas na época ele era diagramador do jornal onde o vovô trabalhava e tava começando apenas. Saudades...

- Cadê o Bia?

- Devia estar comprando cerveja ou... ãh... bom, você é muito novo pra saber essas coisas ainda. Mas na época ele era mais que uma cabeça conservada no museu de história natural e um busto na galeria de grandes pensadores do século 21.

- Não é por nada não, mas como eles se mantinham em pé?

- Quer tomar uma bengalada mesmo, né? Eles não eram velhos. Seus corpos podiam ser decrépitos, mas sua música não. E era disso que eles eram feitos e era nisso em que eu acreditava e acredito até hoje.

- E onde eles estão hoje?

- Mortos, claros. Houve um tempo que achávamos que eles jamais morreriam, mas descobrimos que eternos mesmo eles seriam nas retinas de nossas memórias.

- Então por quê nunca ouvi falar deles?

- Porque é muito novo pra isso. Quando for mais crescidinho, vovô te empresta a chave do sótão onde estão umas coisas. Lá vai ter alguma coisa.

- Ah, fala sério, vô! Ele não usam nenhum computador no palco. Não tem nem DJ e... ai, vô, essa bengala dói, pô!

- Juventude de merda. Eles eram homens, não um bando de bichas vestidas com roupinhas descoladas esfregando a mão num disco. Olha alí agora, é a hora do beijo na boca. Putz..

- É, a galera se empolga mesmo com o cara da guitarra. Mas quem é essa garota com você, vovô? É a vovó?

- Sabe que não lembro? Tava tão louco que... ops!

- Humpft! Sei. E como terminou isso tudo?

- E quem disse que terminou? Tá tudo aqui ainda, fervendo meu cérebro. Se bem que podem ser também essas malditas pílulas ou um início de AVC...

- Tá tremendo, vô! Calma, vou chamar o papai...

- Não, deixa. Deixa eu ir com eles.

- Que é isso, vô, é só rock´n´roll!

- Sim, mas eu gosto.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Passe valorizado

Denitcho prestes a mudar de time. Será?

Entrevista

- Quer ser repórter de cultura, então?

- Nossa, é o que eu mais quero.

- Legal. Do que gosta de ler?

- Ah, pra falar a verdade, só leio o primeiro caderno da Folha de S. Paulo.

- Não lê a Ilustrada?

- Não, não...

- Hum... e livro? Alguma coisa específica?

- Ah... putz... tô terminando o último do Sidney Sheldon.

- Certo... e música? Tá ouvindo o quê agora?

- Gosto de coisas que ninguém gosta, sabe? Baladinhas românticas tipo Norah Jones, Shanaia Twain, um pouco de Beatles, ah, essas coisas...

- Mas você procura coisas novas, vai atrás e tal ou não?

- Não, nem vou. Nem me ligo muito nessas coisas.

- Ah, tá... E o que te fez gostar de cultura, tipo escrever em um caderno de cultura?

- Ai, porque não gosto de política, acho um saco. E cultura é fácil, e dá pra falar com os artistas, gente famosa, sabe? É isso que me atrai, eu acho.

- Ok. Brigado. Valeu. Entramos em contato.

- Ah, brigada eu.

- Caraca, onde eu coloquei meu vidro de Lexotan, senhor Jesus, rápido!

Considerações

Ainda não consigo olhar para as coisas dela. Estão todas por aqui, espalhadas por cima de tudo. Engraçado como nada do que a gente quer esquecer não vai parar embaixo da cama ou sobre o armário. Não, elas ficam bem visíveis, tipo em cima da cômoda ou no tapete da sala. Saco.

Por que simplesmente não vão embora com o vento ou entram de uma vez por todas dentro do aspirador de pó? Por que insistem em se fazer valer, mostrando aquilo que já não tem mais razão de ser? Ficam por aqui, enroscando nos meus cabelos, roçando minhas pernas, cutucando minhas orelhas e beliscando minha bunda.

Poderia (mas jã não deveria ter?) enfiar tudo num saco e jogado no rio, com uma pedra amarrada na boca. Mas certamente ficaria com pena e me atiraria junto cheio de arrependimento e culpa. Vou ligar para ela. Mandar vir aqui e levar tudo embora. É dela, oras, que se vire como rumo que isso deve tomar. Comigo é que não pode ficar. Não aqui, assim, como testemunhas mudas de um crime sem motivo.

E vou ser taxativo. Talvez até providencie o carreto para ela, assim não tenho que me preocupar se irão se quebrar durante o transporte. Melhor já ir acondicionando nas caixas de copos de cristais da mamãe. Mas pode ser que molhem se eu deixar lá fora, então vou colocá-las todas dentro do armário. Antes um pano úmido para tirar o pó. Isso. Pronto. É. Até que não ficou de todo mal. Logo, logo evapora e acabou-se. De uma vez.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

A primeira coisa que eu faria seu fosse mulher...

... seria dar a xoxota para os meus amigos olharem.

Mas só olharem.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Verdade 2 - A Missão

Neste final de semana, pude finalmente assistir a "9 Canções". O filme seria uma grande bobagem com ares de polêmica se não contivesse dois elementos fundamentais para a vida na Terra e um terceiro que tem atormentado minhas sinapses nesses tempos. Sexo e rock´n´roll são os dois primeiros. A verdade é o terceiro, que advém daqueles de uma maneira bem pouco sutil, praticamente explícita por assim dizer. E isso é bom. Muito bom.

Um dos grandes méritos de "9 Canções" e seu diretor, Michael Winterbottom, é trazer a, hã, "estética da pornografia", para um filme com alguma pretensão artística e um bom tino comercial conferido pela trilha sonora de bandas indie de grande expressão (?) lá fora, como Black Rebel Motorcycle Club, Von Bondies, Primal Scream, Franz Ferdinand entre outras. E fazer isso tudo com muita verdade.

A verdade do sexo. Os protagonistas fazem sexo de verdade. Não há cenas em penumbra, que revelam apenas curvas e nesgas de seios e bundas. Tampouco há o hipócrita nu frontal que as estrelas de Hollywood gostam de exibir em parcos segundos de pelos pubianos. Na tela, o que se vê não são ensaios de movimentos ou gemidos em falsete. Há um pau duro penetrando uma vagina. Há felação. Há cunilíngua. Há jogos eróticos. Há brinquedinhos. Há drogas. Há ejaculação. E tudo em close, para não haver dúvida. O que não há é fantasia, divagação ou opções. Winterbottom não dá isso para o espectador. Ele o joga num turbilhão de sentimento tão forte que dá até pra sentir o cheiro.

E tem o rock e sua verdade. Quando não fazem sexo, o casal protagonista vai a shows de uma boa safra de bandas. São apresentações ao vivo, no melhor esquema documental, sem interferência posterior. Os músicos estão no palco fazendo o que sabem e o público se entrega totalmente ao momento, sem ensaio ou prévia. Apenas uma câmera digital na mão e um microfone para captar o som, que se apresenta sujo, distorcido, tosco e maravilhosamente impreciso. Apenas rock´n´roll. Sem playback. Sem fingimento. Sem possibilidade de voltar atrás. Sem necessidade de fazer bonito. Sem pureza. Apenas rock´n´roll. E nós gostamos, pode ter certeza.

Mas há um quarto elemento, que corrobora definitivamente para que a verdade torne-se ainda mais escancarada: a Antárdita. O continente congelado é palco das incursões filosóficas de um dos protagonistas, que trabalha como analista de gelo (!). Nas planícies geladas e brancas que ele percorre não há espaço para nada além de verdade. A imensidão solitária e quieta do mar de gelo é tão sincera e peremptória que exerce sua razão sem deixar dúvidas.

Ao final, fica a sensação de que verdade ou a mentira não podem ser idealizadas ou definidas. Elas existem e ponto final. Estão alí, mas só as vê (e sente) quem realmente quer. Podem ser explícitas ou implícitas. Podem ser ao vivo ou em playback. Podem ser nas agitadas ruas de Londres ou na desolação gelada do extremo sul do planeta.

Ao final, não há mentiras nem verdades aqui. Só há música urbana.

Momento piada interna em uma tarde de domingo depois de várias Brahmas e tortinhas de limão

"A Dani é uma Lena de Itu"

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Das coisas que eu não entendo

Porque Pearl, da Janis Joplin, custa R$ 20 e o Ao Vivo do Daniel tá R$ 35?

segunda-feira, novembro 28, 2005

Verdade

Todo mundo que conheço já assistiu a "Closer". Muitos de tanto eu chatear. O filme é uma lição de vida para mim. Do começo ao fim, expõe de maneira corajosa e direta o que muitos outros gostam de romancear. E toca num ponto que parece ter se tornado obsessivo para a maioria das pessoas que conheço: a verdade.

Sim, a verdade. Aquela que deve ser nua e crua para fazer valer. A única suposição que todo jornalista que prima pela ética deve buscar (isso foi uma piada, desculpem...). Essa palavra que mete medo em tanta gente, que desarma/arma sorrisos, despedaça/conforta corações e liberta/aprisiona almas. A verdade. Nada mais que a verdade, somente a verdade, tipo filme norte-americano de tribunal.

Em "Closer", a urgência enlouquecedora pela verdade destrói relacionamentos que se diziam perfeitos. A mentira também, óbvio. Afinal, só existe a verdade se a mentira está por aí. Um não existe sem o outro, e ambos perambulam por entre os homens desde os primórdios.

O porquê mentimos não vem ao caso. O que sei é que sempre fui afeito a mentiras. Talvez por isso tenha me tornado jornalista: para contar histórias que não existem. Desnecessário dizer que isso me causou (e causa) muitos problemas. Mas o fato é que não demonizo a mentira como o senso comum gosta de pregar. Simplesmente me guio por uma única pergunta: preciso saber a verdade?

Vou dar um exemplo. Certa vez, saindo com uma garota no jardim da casa dela, resolvemos transar. Como não tinha carro, e ela estava com pressa, a coisa rolou ali mesmo, numa fração de calça abaixada e saia erguida. Terminada a peleja, fui para casa caminhando. Entretanto, no meio do caminho, notei que a camiseta que usava estava manchada com sangue na parte de baixo. Óbvio, a garota estava menstruada, mas não havia me dito nada. Ao chegar em casa, tirei a camiseta e enfiei na máquina de lavar junto com outras roupas. "Minha mãe não vai nem notar", pensei bobamente.

No dia seguinte, durante o almoço, ela tira a camisa da máquina e vê as manchas de sangue. Sem perder tempo, vira-se para mim e pergunta: "Gustavo, o que é isso?". Propositalmente, digo se ela quer saber a verdade ou apenas alguma explicação. "Fala a verdade", ela dispara. "Comi uma garota no jardim da casa dela ontem e ela estava menstruada. Aí fez isso aí", respondi. Meu pai quase engasgou com o brócolis, enquanto meu irmão riu baixinho. A expressão de minha mãe nesse instante guardo até hoje, junto com um "eu não acredito, você não tem jeito mesmo", ruborizada.

Conclusão: quer mesmo a verdade? Precisa dela? É tão importante assim? Ou há casos e casos? Se é relativa, então não é uma necessidade absoluta. E se não é absoluta, é discutível. E se é discutível, é uma opção, que posso ou não lançar mão.

Se na ocasião minha mãe pedisse apenas uma explicação, teria dito que se tratava de uma espinha que, quando apertada, sangrou e tive que usar a camiseta para limpar. Ela poderia não acreditar, mas ficaria satisfeita. Entretanto, optou pela versão legítima dos fatos, que a levou a um constrangimento desnecessário.

Em “Closer”, um dos personagens insiste para a namorada confesse que transou com outro quando estavam separados. Ela diz que não, que nunca rolou nada. Mas ele persiste, afirmando que não pode viver com alguém que mente e que quer saber tudo sobre o assunto. Ele sai e, quando volta, ela confessa que realmente havia transado com o sujeito, mas que preferia ele, seu namorado. Mas agora não o amava mais. O desgaste da busca pela verdade havia sido demais para ela. Saber se ela havia ou não transado com outro durante o período em que ficaram separados parecia mais importante para ele que o amor que supostamente sentia. Logo, não havia por que continuar a relação. No final, ele ainda a estapeia pelo que aconteceu.

É ilusão, portanto, pensar que a verdade liberta. Mas não defendo o uso indiscriminado e viciante da mentira. Acredito no bom senso. Acredito que algumas coisas não precisam ser elucidadas mais do que a aparência entrega. A busca incessante e louca pela verdade pode trazer conseqüências nefastas que poderiam muito bem ser evitadas.

A verdade, então, é nada mais que uma versão da realidade. Eu tenho a minha. Você tem a sua. E qual a certa? Quem vai se impor? Até onde está disposto a ir para satisfazer sua sede de verdade? Está realmente pronto para pagar esse preço? Eu confesso que não estou.

sexta-feira, novembro 25, 2005

A vida tem mais fúria que som

Certa vez, o Marcelo Camelo, vocalista do Los Hermanos, disse que o maior problema de se comparar a vida com os filmes é quando, nestes, os créditos sobem no final. Quer dizer: eles tem um final. Independente de felizes ou tristes, eles terminam. Sempre terminam. A vida não. Só acaba, lógico, quando se morre. Mas até lá...

A colocação do barbudo faz sentido. As histórias contadas na telona tem momento para acabar. Os créditos sobem e os personagens e situações ficam congelados naquele último frame. Mas na vida, não. Ela continua a partir de onde parou. E isso é mais complicado do que se imagina.

E tem ainda as trilhas sonoras. O quê é um filme sem uma bela trilha sonora? Até filmes iranianos possuem musiquinha no fundo. Mas a vida não. A vida não possui trilha sonora. E isso é mais complicado do que se imagina.

Por exemplo:

- Quando você acaba de levar um pé-na-bunda, não ouve "Blower´s Daugther", do Damien Rice

- Quando está deitado na cama, numa noite de domingo, com a pessoa sapateando nos seus pensamentos, não ouve "Bed of Roses", do Bon Jovi

- Quando sai do trabalho puto, depois de ter brigado com seu chefe, o rádio do carro não toca "Search and Destroy", dos Stooges

- Quando você está em frente do espelho se arrumando para a noite e dá aquela última olhada de corpo inteiro, não está no ar "Rock and Roll Star", do Oasis

- Quando encontra alguém que sente que será especial, não ecoa os primeiros acordes de "Still got a Blue", do Gary Moore

- Quando dá o primeiro pega e começa a viajar, não ouve "Space Oddity, do David Bowie

- Quando briga com seus pais e sai batendo a porta, não toca "Mama said", do Metallica

- Quando consegue finalmente tirar 5 em matemática, não toca o tema de Rocky, Um Lutador

- Quando senta para fazer a prova do vestibula, não se ouve "Final Countdown", do Europe

- Quando se desce a serra para o litoral, o rádio não toca "Proud Mary", do Creedence

- Quando você fracassa em algum projeto, não ouve "Let it Be", dos Beatles

- Quando está se preparando para fazer sexo, não ouve "Let´s get on", do Marvin Gaye

- Quando se está fazendo sexo, a última coisa que se ouve é "Je t´aime moi non plus", do Serge Gainsbourg

- E quando o fim é iminente, duvido que se ouça alguma coisa

terça-feira, novembro 22, 2005

Alguém disse

A maneira mais segura de deixar uma mulher é ser deixado por ela

quinta-feira, novembro 17, 2005

Meu blog não goste de eu

Não consigo mais postar fotos.

Não consigo mais dar pitacos no sítio alheio.

Não sei como resolver isso.

Não sei se caso ou se compro uma bicicleta.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Eloqüência

15 minutos de conversa depois

- Você é gago?

- Não, sou disfluente.

- Como assim?

- Tenho disfluência.

- Não é a mesma coisa?

- Não. Se fosse, não teria outro nome.

- Ai, só perguntei. Perguntar não ofende.

- Perguntar, não. Estupidez, sim.

- Nossa, como você é grosso. Por isso é gago.

- Não sou gago. Sou disfluente.

- É a mesma coisa.

- ...

Inúteis

Existem músicas que fazem sentido para alguém. Outras, que não fazem sentido para ninguém. Mas "Inútil", do Ultraje a Rigor, faz sentido para quase todo mundo. No momento, elenco essas personas de minha seara

"A gente não sabemos escolher presidente" - para o meu pai, coitado

"A gente não sabemos tomar conta da gente" - para mim, sem sombra de dúvida

"Tem gringo pensando que nóis é indigente" - Maryjane, que desconta o contracheque direto de Montreal

"A gente pede grana e não consegue pagar" - eu de novo, putz...

"A gente faz música e não consegue gravar" - meu chapa Rodrigo Cardoso, cover de 150kg do Jim Morisson

"A gente escreve livro e não consegue publicar" - nem precisa falar que é o Bia, né?

"A gente faz carro e não sabe guiar" - a Nunu, meu love

"A gente joga bola e não consegue ganhar" - Denitcho e seu joelho/tornozelo bichado

Bunda mole

Sou um péssimo suicida

terça-feira, novembro 08, 2005

Porque vou praticar orkuticídio

O Álvaro Pereira Júnior é um mala. Um chato, que adora criar polêmicas pra molecada do Folhateen, onde é colunista. O sujeito tem quase 40 anos de idade e gosta de provocar garotos de 15. Não à toa, é editor-chefe do Fantástico, a coisa mais estúpida da TV brasileira em seu horário.

Mas desta vez preciso fazer minhas as palavras dele. Em sua coluna desta segunda-feira, escreve juninho o seguinte:

Já pensou se o Orkut servisse para alguma coisa? Se ele não fosse só nostalgia, fofoca e sacanagem? Se tivesse um uso prático bem definido?

O texto, chamado "O Orkut que deu certo", é sobre o MySpace.com, comunidade que, segundo Álvaro, é bem mais útil que a criada pelo Google. E encerra de forma magistral, bem a seu estilo:
Assim como o açaí na tigela e a Scheila Carvalho, o Orkut é um fenômeno estritamente brasileiro. Importante, é claro, mas de alcance paroquial.

Quando começou, o Orkut era legal. Servia para reencontrar muita gente que, por um motivo ou outro, havia se perdido pelas encruzilhadas da vida. E aí dá-lhe scrap, mensagem, troca de e-mail, telefone, encontros (orkontros, para os exagerados), enfim. Mas aí a coisa parou. Simplesmente não rendeu mais fruto algum.

O porquê disso é simples. Se tais contatos foram perdidos, era porque realmente não eram importantes. Se fossem, não teriam se perdido. E passada a euforia inicial, o que era para ser algo saudável, tornou-se nocivo, para não dizer bobo.

Restou, claro, a putaria. Tornou-se mais um canal onde gente feia e travada tenta comer alguém sem precisar botar a cara pra bater. Outro meio de dar "escapadinhas", arrumar affairs, chifrar namorada, boicotar namorado. Putas comerçaram a a anunciar seus servicinhos em seções específicas ou em páginas próprias. Grupos de swing, ménage, cornos mansos e vagabas em geral não param de aumentar.

Restou também a faceta cruel, estúpida e irrelevante - por isso mesmo a de maior vulto - do ser humano, traduzida em comunidades preconceituosas e de mal gosto. Contra negros, mulheres, judeus, nordestinos, homossexuais, pobres, enfim, a velha ignorância de sempre, só que com um alcance muito maior.

E o que é pior: os spams, correntes e piadinhas, antes restritas aos e-mails, invadiram os scraps, dando novamente aquele falsa sensação de que alguém realmente se importa com alguém. Como se um recadinho do tipo "Fala, sumido... manda notícias" fosse realmente sincero. Basta entrar na página de scraps de quem mandou para vereficar que a mesma pergunta foi feita para todo mundo.

Então, como não sou feio, travado e não faço questão de participar de nada que seja virtual, tô dando linha. Saindo fora. Ralando peito. Pegando o caminho da roça. Tomando rumo. Indo embora, enfim.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Eu odeio a ABKCO

E quem diabos é a ABKCO?

A ABKCO é a gravadora que desde 1986 detém parte do catálogo dos Rolling Stones. Mesmo a maior parte sendo de coletâneas (e eles tem muitas), é dela os direitos de lançamento de discos seminais na história da música, como "Let it Bleed" (1969), "Beggars Banquet" (1968), "Their Satanic Majesties Request" (1967) e "Between the Buttons" (1967).

Ou seja: simplesmente a melhor fase do grupo, essencial para quem é fã e mais ainda para quem quer entender um pouco de música.

Mas você compra qualquer um deles. Bota no aparelho de som. E - como o Guto precisamente relatou - como qualquer pessoa normal, você vai fuçar no encarte. E qual não é a surpresa quando, só para começar, não existe a data de lançamento do disco. Sim, não há qualquer menção de quando a gravação foi feita. Para o ouvinte eclético (essa raça ignóbil que gosta de qualquer coisa), isso não importa. Mas é preciso admitir pelo menos a possibilidade que existe gente com um mínimo de curiosidade e vontade de saber porquê a partir da segunda metade dos anos 70 os Stones só fizeram merda. E para isso, é preciso ter em mãos pelo menos o ano em que os trabalhos foram feitos.

Mas não tem. Não tem nada. Nem menção. Sequer uma indicação de década, época ou era.

Nada.

Então o sujeito que comprou o disco, e quer saber em que ano aqueles batuques satânicos de "Sympathy for the Devil" foram gravado, precisa recorrer a Internet. E estamos falando apenas de uma mísera data. O que dirá de informações mais técnicas como os músicos que gravaram as canções, o estúdio onde foi feito o registro, os técnicos e engenheiros de som e mixagem, o artista da capa, enfim, dados que podem passar batido para o ouvinte medíocre, mas que são importantes para quem gosta não apenas da banda em questão, mas que entende a música como algo além de ritmo feito para chacoalhar o corpo.

Quanto às letras, é óbvio que nenhum deles traz. Os encartes se resumem a quatro páginas, contando com a a capa e contracapa. Novamente, para entender o recado que Jagger manda em "You Can´t Always Get What You Want", é preciso recorrer a Internet.

Mas isso você não encontra nos CDs remasterizados digitalmente pela ABKCO. Ah, sim, consta a ficha técnica da equipe que remasterizou as bolachas. E eu lá quero saber o nome de quem agora, depois de tudo pronto, de décadas de história, simplesmente apertou alguns botões e "limpou" o som?

O que a ABKCO faz mesmo questão de estampar em todos os CDs é uma espécie de auto-congratulação - em inglês, evidentemente - sobre a proeza e privilégio de poder lançar os discos dos Stones. É muita cara de pau e desrespeito não apenas para com o fã, mas o consumidor em geral, que compra um produto e leva outro.

E o pior: a ABKCO detêm os direitos também de Phil Spector, Sam Cooke, Marianne Faithfull e The Animals.

É ou não é pra chorar?

Estamos nas mãos desses picaretas, como bem colocou o Bia, ou podemos fazer alguma coisa?

Mineirices na roça

Acabo de saber que os maravilhosos Guto e Mônica vão pintar aqui pela ex-colônica norte-americana.

É nóis no caldo de cana e pastel de queijo!

Eeeeeeee!

Crônicas de redação - II

- Repórter, vem aqui um pouco.
- Fala, editor.
- O quê você quis dizer com "O Estado vai obrigar a cidade a cumprir a lei"?
- Tá errado?
- Bom, até onde sei, o Estado não obriga cidade alguma a fazer nada. Muito menos cumprir lei.
- Ah, sei lá. Eu só escrevo o que me falam.
- E não checa pra ver se tá certo?
- E precisa?
- É bom, né? (risinho sarcástico)
- Ixi... se for fazer isso, fico aqui o dia todo...
- Ah, entendi. Ok. Valeu. (olhar bem aberto, olhando para o nada, virando para o monitor)
- Beleza. Precisando, é só perguntar. (sai saltitante)

Para alguém entender

Look for me!
Cruisin down the westside - high, way
Doing what we like to do - our, way
Eyes behind shades, this necklace the reasonall of my dates been blind dates
But today, I got my thoroughest girl wit me
I'm mashin the gas, she's grabbin the wheel, it's true to the heart
She rides with me - the new Bobby and Whitney
Only time we don't speak is during "Sex and the City"
She gets Carrie fever, but soon as the show is over
She's right back to being my soldier
Cuz mami's a rider, and I'm a roller
Put us together, how they gon' stop both us?
What ever she lacks, I'm right over her shoulder
When I'm off track mami is keepin me focused
So let's, lock this down like it's supposed to be
The '03 Bonnie and Clyde, Hov' and B

All I need in this life of sin, is me and my girlfriend.
Down to ride 'til the very end, it's me and my boyfriend.
All I need in this life of sin, is me and my girlfriend.
Down to ride 'til the very end, it's me and my boyfriend.

The problem is, you dudes treat the one that you lovin
with the same respect that you treat the one that you humpin
Now they 'bout nothin - if ever you mad about somethinIt won't be that; oh no it won't be that
I don't be at, places where we comfy at
With no be-atch; oh no you won't see that
And no, I ain't perfect - nobody walkin this earth's surface is
But girlfriend, work with the kidI keep you workin at Kermain, Birkin bag
Manolo Blahnik Timbs, aviator lens 600 drops, Mercedes Benz
The only time you wear Burberry to swim
And I don't have to worry, only worry is him
She do anything necessary for him
And I do anything necessary for herso don't let the necessary occur, yep!

All I need in this life of sin, is me and my girlfriend.
Down to ride 'til the very end, it's me and my boyfriend.
All I need in this life of sin, is me and my girlfriend.
Down to ride 'til the very end, it's me and my boyfriend.

If I was your girlfried I'll be there for you, if somebody hurts you
Even if it's somebody takes my place
Yeah-hee (break it down for 'em)
Sometimes I trip on how happy we could be
And so I put this on my life
Nobody or nothing will ever come between us
And I promise I'll give my life and all of my trust if you was my boyfriend
Put this on my life
The air that I breathe in, all that I believe in
I promise I'll give my life my love and my trust if you was my boyfriend

All I need in this life of sin, is me and my girlfriend.
Down to ride 'til the very end, it's me and my boyfriend.
All I need in this life of sin, is me and my girlfriend.
Down to ride 'til the very end, it's me and my boyfriend.

domingo, outubro 30, 2005

Amor versão Strokes

You say you wanna stay by my side
Darlin', your head's not right

sexta-feira, outubro 28, 2005

Crônicas de redação - I

- Putz, que beleza. São 19h e já tô acabando aqui. Vou aproveitar que de quarta-feira o cinema é mais barato e pegar uma sessãozinha.
- Ô, filhão, tem que adiantar a edição desses suplementos ainda hoje, hein? Sexta-feira é feriado e vamos adiantar a programação.
- Eita... bom, pelo menos, saindo umas 21h dá pra passar na locadora e pegar uns filmes.
- Ai, rapaz... você viu quem fez as matérias dos suplementos essa semana?
- Não.
- A repórter nova.
- E...?
- Tu ainda não viu o texto dela, né? Acho que vai dar trabalho...
- Ai, caralho... deixa eu consultar a programação da HBO aqui. Hum, vai passar "Cães de Aluguel" meia-noite. Legal, bicho...
- Alguém sabe onde foi parar o Almeida?
- Ele falou que tava passando mal e precisou dar uma saída. Opa, peraí que é ele aqui no telefone.
- E aí?
- Era ele. Da casa dele. Disse que pegou uma virose e não volta mais hoje.
- Putz, tu vai ter que pegar o trampo dele, então.
- Mas essa merda tá pela metade ainda!
- Ah, bicho, que cê quer que eu faça? Alguém tem que fazer.
- Puta merda. Tô vendo que vou sair no lucro se conseguir ter oito horas de sono...

quinta-feira, outubro 27, 2005

Mamas & Papas

O Bia vai ser pai.

A Karen vai ser mãe.

E a blogosfera inteira pode apadrinhar.

Quem tá dentro?

sábado, outubro 22, 2005

Eu também matei o Bia

- Mestre?

- Sim, pequeno Padawan. O momento chegou. Dissertaste sobre infinita sabedoria da prosa marginal e lírica de Lou Reed. Resfolegaste tua juventude entre coxas suadas de fêmeas despudoras. Desbundaste em orgias gastronômicas em nome de Baco. Devoraste os mistérios infindáveis de minhas palavras impressas em minha novela marrom. Praticaste o título na penumbra e na claridade. Embrenhaste na selva onírica e selvagem de Truffaut, Kubrick e Hitchcock. Penaste em decorar o verbo e particípio futuro da ignorância presente no coração dos homens. Tornaste perdulário com fanfarronices musicais, literais e audiovisuais. Pediste para ir embora enquanto todos se regozijavam da própria sorte. Influiste em processos ilícito para favorecer os mais próximos, mesmo sabendo do preço a ser pago. Conquistaste a alma cândida e inexpugnável da preponderância. Topaste com o infinito e fizeste dele um lar de aço e acalento. Exumiste tua febre de amor e paixão em pálidas nuvens de palavras. Correste para o horizonte como se tua existência disso dependesse. Arrancaste o mármore da infidelidade dos atos divinos das mãos trêmulas do tempo. Contaste os dias e enguliste a ostra que morre antes do sol se pôr. Deitaste com o mar enquanto este ainda era um infante. Perambulaste pelas zonas do pensamento idílico sob pés alados de amadurecimento tardio. Vieste a mim tal o homem nasce. Agora parte para a guerra com a couraça dos destemidos e insanos espartanos.

- Estás pronto, mestre?

- Sempre. No alto dos meus 35 outonos, não tenho mesmo mais o que fazer nessa porra de existência, a não ser entupir meu rabo com conhaque barato e punhetar assistindo a velhas chanchadas da Atlântida. Anda logo, moleque do caralho.

- Então recebe minha espada em teu ventre.

* Tchuft*

- Aaaaaaaahhh.... Fia da puta... gira o cabo para o ar entrar, senão vai dar uma hemorragia, porra! Me mata logo, caralho...

- Tô tentando, cacete, mas a lâmina prendeu. Provavelmente numa dessas enormes pedras de rim que tu tem. Velho de merda...

- Aaaaarrrhhhggg... cacete, tá começando a doer. Tira essa merda da minha barriga e corta meu pescoço

- Toma.

*Tuc*

- Aaaaaai! Não cortou, caralho. Essa merda não tá afiada! Mas como tu é idiota, puta discípulo burro e incompetente que eu fui arrumar...

- Claro que tá afiada, seu babão. É que essa carcaça de elefante velho tua não deixa corta, porra. Já sei, vou meter essa pedra na sua cabeça.

- Nossa, morrer de pedrada. Não acredito que vou morrer com uma pedrada na fuça... puta merda...

*Toc*

- Beu dariz! Beu dariz! Vilho da buta! Queprou o beu dariz! Dão bára de zangrar, borra...

- Ô bicho ruim de matar, credo. Vou ter que arrumar alguma outra coisa. Deixa ver... hum... ah, filhão, fica se esvaindo em sangue aí que é o melhor que tu faz, vai. Eu tou sair fora. Preciso fechar a edição ainda.

- Izo, izo, bai me deijar agui com a borra do dariz zangrando, a parriga aperta e o bescozo vudido? Badawan de merda... Aaaaaaarrrghhh... aaaaarrrgghhh...

- Hum... acho que morreu. De uma vez. É isso. Bão, vou pegar o White Album e o Rock´n´roll Circus. Talvez alguns do Wilco e o quadro do Velvet. O conhaque deixo pro Denão e os tubos de KY pra Carol. É isso. Morreu, filhão.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Holocausto

A batalha foi árdua. Em muitos momentos, pensei mesmo em desistir, deixando para outros a abnegada tarefa de colocar Luiz Henrique Biajoni e seu famigerado Sexo Anal em um jornal.

Mas está. Sem um vírgula fora do lugar.

Agora sem falsa modéstia: quantas pessoas vocês conhecem que estampam um título como esse na capa de um caderno de cultura?

sexta-feira, outubro 14, 2005

The doctor in...

Feriado de 12 de outubro. Depois de um longo período sem descanso no jornal, consigo uma folga. Teria um dia inteiro para fazer simplesmente niente. Liguei para minha mão de amigos e convoquei todos para tomar umas e dar risadas.

Era feriado. Era Dia das Crianças. O Leão Lobo estava vestido de criança na TV.

E eu estava com um ouvido tapado.

Um ouvido tapado.

Eu nunca tinha ficado com um ouvido tapado antes. Nem sabia como era a sensação de ter um ouvido tapado. Mas assim estava desde o dia anterior quando, ao sair do banho, senti o já explicitado orifício entupir e assim ficar durante todo o dia.

Não. Ninguém sabe o que é ficar meio surdo um dia inteiro dentro de uma redação de jornal. Agora eu sei. E vou recomendar para os meios melhores inimigos, podem ter certeza.

Meu pai tem isso direto. O caso dele é quase crônico. Diz o sagitariano que desde a lua de mel com minha mãe ele sofre do mal do ouvido tapado. "É como ficar com uma vareta enfiada no rabo", comparou. Bom, não posso confirmar tal analogia, pois nunca tive uma vareta enfiada no rabo. Mas digo que é como um cisco pérpetuo nos olhos.

E isso me incomodava.

Fui ao médico. Num hospital de convênio. "Vão passar um rotoruter no meu ouvido e sairei limpo daqui", imaginei. Na minha vez, o médio me examina e diz que o ouvido tá entupido de cera. E completa que preciso amolecer a dita cuja para poder voltar a ouvir.

Tóim!

Biduzão. Quase pedi para ele seis dezenas pra jogar na mega sena.

Saio ainda mais mal humorado do hospital. Acordo no feriado e o ouvido ainda está tampado. Vou reclamar com meu pai, homem prático, formado nos canaviais de Rio das Pedras e no Senai de Limeira, afeito a soluções rápidas e efetivas.

"Ó. Eu cansei de ir no otorrino e tomar água quente na orelha. Até sangue sai. Tem um jeito melhor", elucidonou-me papai. Ele continua que, num belo dia, irritado com o não funcionamento de práxi de um dos ouvidos, num lapso de desespero, enfiou a mangueira de testar hidrovácuo no pavilhão auditivo e... puf! Fez o som.

Agora uma breve explicação. Meu pai tem uma autopeça e oficina mecânica. Lá, há uma máquina composta por um motor que, ligado, gera vácuo através de uma mangueira. É utilizada para testar determinados tipos de componentes do sistema de freio automotivo. Tipo um aspirador de pó, só que menos potente. A mangueira, quando conectada e vedada, suga o ar formando uma câmara de vácuo no local desejado.

No caso dele, o ouvido.

Com a pressão exercida pelo vácuo, a camada de cera que tapava ouvido é aberta.

"Demorou. Vamo lá", senteciei, com a determinação dos que não tem nada a perder.

Fui, meti a mangueira no ouvido e liguei o motor. Plóp! Os rouxinóis gorgorejavam. Os grilos cri-cri-crizavam. A vida voltava a ter som.

Contei a peripécia a todos, que indignados ficaram. "Vai foder seu ouvido", foi o que mais ouvi. Mas ouvi.

terça-feira, outubro 11, 2005

Uoba! Uoba!

Quando Roger Moreira escreveu a letra de "Terceiro", ele devia estar numa fase muito inspirada. Conheço pouquíssimas pessoas que se não se preocupam em não se destacarem no que fazem. Eu sou uma delas.

Cago e ando para a competição. Talvez por isso sempre tenha me mantido afastado de práticas esportivas. E olha que eu tentei. Por mais de uma vez, até. Mas era sempre a mesma coisa.

Aos 13 anos, entrei numa escolinha de futebol e, depois de uma semana de bate-bola descompromissado, a insanidade começava a ser insuflada pelo treinador. Como um general facista, cupia para correr, marcar, chegar junto, avançar, voltar, marcar de novo, e bater, tentando transformar um bando de pernetas em cãe de guerra sanguinários. Cadê o espírito esportivo? A diversão saudável e descompromissada? A camaradagem? O companheirismo? Tinha ido embora na botinada que havia levado de um garoto do meu próprio time depois que errei um passe. Ele estava crente que seria o novo Raí. Hoje é empacotador de supermercado. O garoto, não o Raí.

Então entrei numa academia de karatê. Eu, que sempre fui um bundão assumido, preferindo a palavra à espada, fiquei horrorizado. Bater e apanhar não era comigo, definitivamente. Mesmo assim, fui até faixa azul. Grande coisa.

Anos mais tarde, aos 15, me matriculei para fazer natação. "Esporte completo", diziam em uníssono. "Abre os pulmões, define os músculos, melhora o condicionamento", replicavam, quase a ponto de salvaguardarem que, apesar de minha pouca idade, a natação me daria ereções perpétuas. Três dias e alguns caldos depois, a academia começa uma semana de competições internas, do tipo "turma da tarde" contra a "turma da manhã". Os professores de ambos os períodos incitavam a rivalidade. "Vamos deixar ele ganharem da gente?", perguntavam, já esperando um desafinado "Não!", seguido de alguns palavrões. Na água, neguinho tinha quase um ataque cardíaco para conseguir chegar na frente. A pá de cal veio quando a instrutora disse que eu precisava melhorar minha braçada, fechar mais a curvatura do braço e treinar melhor minha virada olímpica. Num ato desespero impensado, balbuciei: "sabe, eu não quero competir, não. Só quero nadar". O apito caiu da boca da garota, que soltou um "ah..." e virou-se para nunca mais me dirigir a palavra. Era o fim.

Quase dez anos depois resolvi malhar. Com o término da faculdade, tinha tempo de sobra. "Hora de cuidar do corpo", pensei, no alto dos meus 60kg distribuídos em pouco mais de 1,75 metros. Na academia, me senti no paraíso dos idiotas. O que reforçou minha tese de que aquilo não poderia fazer bem para mim, mas não custava tentar. Afinal, já tinha tentado de tudo, não custava nada. Mas custou e pedi a conta quando, na segunda semana, um sujeitinho chegou com uma fita métrica para medir meu bíceps. "Vamos ver a quantas anda essa muxibinha aí, querido", regurgitou o esteriótipo de tudo aquilo que mais abomino na face da Terra. "Pra quê?", retruquei. "Pra saber se está dando resultado. Aí aumentamos a carga", respondeu, como se ensinasse a Teoria da Relatividade para um chimanzé. Disse que não precisava, que meu lance alí era apenas puxar uns ferros para transpirar um pouco, manter a barriga no lugar e só. Ele, claro, não gostou e, como a professora de natação, não quis mais saber de mim. "Caso perdido", deve ter pensado. Ainda assim continuei por lá mais um mês. Mas ver todos os dias sujeitos se comendo em frente a um espelho, piranhas da idade da minha mãe pagando de gatinhas com os instrutores e, pior, ouvir insuportáveis "Aaaaff!", "Uuuuff!" e "Gaaac!" sempre que alguém erguia ou abaixava quase uma tonelada de ferro fundido foi demais pra minha cabeça cabeluda.

Dei as contas para o esporte, o físico e o escambau.

A barriga de chopp, claro, veio e se instalou. Mas é até simpática e, se preciso for, consigo encolhe-la e disfarçar bem. Claro que isso um monte de gente também faz. Ainda bem. Assim, ninguém me acusa de querer ser o melhor em alguma coisa.

Ói, que legal...

... essa animação do blog da Luz de Luma aí do lado? Consegui através da Simy. É tudo o que eu queria fazer se entendesse um pouco de animação. Ou se tivesse algum talento, quem sabe...

sábado, outubro 08, 2005

Planta

Acontece de repente. É algo meio inesperado, tipo a primeira menstruação ou a primeira vez que você ejacula: sabe que mais dia menos dia iria acontecer, mas, quando acontece, putz, assusta pacas.

Amadurecer é mais ou menos assim.

E acredito que o amadurecimento - de caráter, principalmente - está intrinsecamente ligado a carga de responsabilidade que se carrega. Quanto mais se é responsável, mais maduro se torna. E quanto mais maduro se torna, menos tolerância passa a sustentar.

O reflexo disso é sentido principalmente nos relacionamentos pessoais. O número de amigos diminui. Gente que era vista como tótem hoje não passa de graveto. E não há crueldade ou ingratidão nisso. Apenas falta de tolerância e aumento de auto-confiança, que resultam num afunilamento do crivo para este fim.

Isso parece inevitável.

Coisas que antes eram objetivo de largas conjecturas e noites sem dormir, agora são resolvidas num tapa. Pequenas bobagens são identificadas rapidamente e despachadas da mesma forma. Tornar-se responsável por algo maior que o próprio umbigo é desenvolver uma visão de prioridades. A própria noção de tempo passa a ser outra, porque ele se torna cada vez mais escasso. Logo, perde-lo em ações, situações ou pessoas que merecem no máximo um aceno de cabeça não pode ser tolerado.

Porém, a falta de tolerância não significa falta de paciência, brutalidade ou ignorância. A paciência, pelo contrário, é uma virtude que deve ser reforçada e trabalhada de maneira benéfica.

A tolêrância corrói a capacidade de amar de verdade. Tolerar não é amar, é penalizar o próximo. É mantê-lo em sua imaturidade, privando-o de um mundo que só se descortina quando se sente os prazeres e desgostos da responsabilidade plena.

Maduro, não se tolera.

Se ama ou se odeia.

Para-se de viver de migalhas e parte em de um belo pedaço com recheio e cobertura.

Ergue-se a cabeça para apanhar na cara, e não na nuca.

Chora-se uma partida, mas não uma perda.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Nos anais do pop

O Bia é pop.

E ganhou coluna na Antena 1.

Prestigiem nosso Dapieve, pô!

segunda-feira, outubro 03, 2005

Pólvora

Fecho com o Matias. Vou votar "Sim" no dia 23.

Por ser pacifista.

Bunda-mole.

Acreditar em estatísticas.

Simpatizar com a Trip.

Antipatizar com a Veja.

Ter o John Lennon como Beatle favorito.

Música para corações em fúria

Digital Bath, dos Deftones.

sábado, outubro 01, 2005

O baixista não come ninguém

- Beleza. O repertório vai ser hard rock anos 60 e 70, certo?
- Pode crer. Acrescenta um pouco de psicodelia com um pandeiro em forma de meia lua. Eu assumo os vocais, já que meus cabelos parecem com os do Mick Jagger na época da majestade satânica.
- Certo, então eu toco guitarra. Consegui solar ontem Stairway to Heaven do começo ao fim.
- Praticamente um Jimmy Page cover...
- Quem assume as baquetas?
- Eu, que sou o mais gordo. Baterista que se preza é gordo. Ou pelo menos o mais gordo do grupo. Se bem que gordo é uma palavra um tanto pejorativa. Na verdade, o baterista é o mais forte, o mais braçudo da banda. Então sou eu mesmo.
- Tu já tem bateria?
- Não, mas consigo uma.
- Peraí. Só sobrou o baixo? Ah, não, nem fudendo. Não vou ser o baixista.
- Porque? É o instrumento mais fácil de tocar, nem precisa de muito tutano. É só ficar num canto, com pose de introspectivo, tipo o John Paul Jones, mexendo nas cordas. Ainda se fossemos uma banda de metal progressivo...
- Não, pô! O baixista não come ninguém, vocês sabem disso! É o mais otário, o que sempre fica com as piores groupies. Não, nem vem, não quero ser o baixista.
- Ah, qual é! Pra sua informação, um dos maiores comedores do rock é o Gene Simmons, baixista do Kiss. Ele até lançou um livro contando os casos dele e tal.
- Putz, nada a ver. O cara é o maior nada a ver, o maior cascateiro. Com aquela cara nem a minha prima de Nhandeara dava pra ele.
- Tem o Paul também. O que seria dos Beatles sem o olhar de bagre morto do Paul? E ele era baixista.
- E quem se importa com o Paul? Ele só conseguiu ser menos insignificante que o Ringo. Mas aí também já é chutar cachorro morto. Fora que ele casou com a primeira namoradinha dele ou algo assim. Não, nem a pau, não quero ficar com o baixo.
- Ah, cara, qual é, faz um esforço. Ó, tem o Flea, que é baixista dos Chilli Peppers! O cara é totalmente pirado e a mulherada adora ele!
- Claro, depois do Anthony Kiedis e do Frusciante! Meu, já falei que não quero o baixo.
- Então fica com o pandeiro em forma de meia lua.
- Não, pra isso a gente precisa colocar uma riponga gostosa. Uma não, várias, tipo as GTOs do Zappa. Cada uma com um pandeiro em forma de meia lua, chocalho, uns lances assim.
- É, só sobrou o baixo mesmo. Vamos lá, cara, para de pensar um pouco em mulher e se concentra na música. É por isso que estamos montando uma banda. Pela música. Só ela importa. Ela e seu enorme poder de mudar as mentes de milhares de...
- Putz, cala a boca, cara. Quem tá interessado em música aqui? O lance é fazer um som pra mulherada cair em cima e a gente se dar bem. Corta esse papo de colunista bicha de caderno de cultura...
- Aí, lembrei de outro baixista que, além de tocar, é o vocalista, letrista, e dono da banda! O Humberto Gessinger!
- Nossa, conseguiu piorar tudo. Nem na próxima encarnação vou conseguir fazer umas letras como a dele. Nem uma música tão ruim.
- Tem o Sid Vicious, cara! Quer sujeito mais atitude que ele? E era o baixista!
- É, cheio de atitude e burrice. Enfiou o pé na jaca e morreu. Grande coisa.
- Quem é o baixista do Dream Theater?
- Por esse nem eu me interesso. Não somos uma banda de progressivo, cara, esquece isso. Não vou querer solos de quarenta minutos.
- Então, tão vendo? O baixista é o sujeito mais insignificante da banda! Os Stones nem tinham um baixista fixo. De tão inútil, os White Stripes tiraram e ninguém sentiu falta. O Krist Novoselic não emplacou nada depois que saiu do Nirvana. E os Mutantes acabaram logo que o Liminha entrou para tocar baixo. Então podem parar de tentar me convencer.
- Beleza, então tu tá fora. Pronto, era o que queria?
- Ah, nada mais clássico. Quando aperta uma crise, sacam logo fora o baixista. Não podia esperar nada diferente de vocês. Passem bem.
- Pô, cara, não fomos muito duros com ele? Era só o baixista, não fazia mal algum.
- Conhece aquela história, né? Todo baixista é um guitarrista frustrado.
- E não come ninguém.
- E quem vai dar o grave pra música?
- Coloca um teclado no fundo. Ninguém vai perceber. Tu manja tocar teclado?
- Não. E mesmo se soubesse, não iria tocar. Se o baixista não come ninguém, o que dirá do tecladista. É só olhar o Roupa Nova, que tem dois tecladistas...
- Putz, nem me fale.
- Deixa sem baixo então.
- Por mim tudo bem.
- Não que vá sobrar mais mulher por isso...

domingo, setembro 25, 2005

Conclusão

Todo mundo sabe que a Hello Kitty não tem boca.

Não tem boca porque fala com coração.

Logo, só pode pagar boquete com o dito cujo.

(Em breve, fotos reveladoras e comprometedoras)

Não, isso não pode ser sério...

Alguém conhece a cidade de Matão? É uma típica cidade do interior de São Paulo, cercada por plantações de cana-de-açúcar, café, laranja e povoada por descendentes de imigrantes europeus. É quente e irritantemente monótona, como toda típica cidade do interior de São Paulo. Entretanto, Matão pode ser gabar de possuir lugar de destaque dentro do imaginário musical. Foi lá que os Rolling Stones, em idos de 1969, deram uma passada de 18 dias.

Agora respire fundo e raciocine.

Não foi o CPM22 que resolveu fazer um churrasquinho de lagarto no meio do mato. Nem o Planet Hemp que resolveu fumar unzinho afastado dos meganha. Foram os Rolling Stones. Mick Jagger, Keith Richard, Charlie Watts, Marianne Faithfull e um séquito de ingleses babões, todos enfurnados dentro de uma chácara, nadando pelados e tocando o dia todo. A chácara era de ninguém menos que Walther Moreira Salles, o dono do Unibanco, ex-patrão do Bia e pai de vocês-sabem-quem.

Entendeu? Em Matão.

Não foi no Rio de Janeiro. Não foi em São Paulo. Nem em qualquer outra capital imunda. Foi numa insuspeita cidadela cheia de pés-vermelhos que o maior grupo de rock vivo teve sua primeira experiência brasileira. Nada de mulatas despudoradas, vagabundas profissionais, hotéis podres de chiques ou camas king size. Matão. Nada mais.

Eu, claro, descobri isso ONTEM. Fuçando algumas Caros Amigos do Bia, me deparei com a edição de número 37, de abril de 2000. A capa tem dá destaque para o filho não reconhecido de Fernando Henrique Cardoso com uma jornalista da Globo. Não preciso dizer o que é mais importante. Ninguém é perfeito, afinal de contas...

Porém, passado o choque incial, refleti: quem eram os Rolling Stones em 1969? Seguramente a banda mais inspirada e inspiradora do mundo. Tá, mas o Brasil não fazia parte do mundo naquele ano. Em 1969, ele lançavam o estupendo "Let it Bleed", o primeiro sem o guitarrista e fundador Brian Jones, encontrado morto boiando na piscina de sua mansão, vítimado por uma suposta overdose. Enquanto isso, o Brasil tomava um AI-5 na cabeça e a coisa ficaria ainda pior com a subida do Medici ao poder.

Ou seja: QUEM ERAM OS ROLLING STONES PARA O BRASIL EM 1969?

No máximo, um grupo de gringos branquelos doidões, que faziam música estranha e gostavam de festas estranhas com gente esquisita, como deixam claro os depoimentos do que presenciaram a visita dos demônios a pequena e ensolarada Matão.

Se o que eles queriam era passar incógnitos, não poderiam ter escolhido lugar melhor. Fora meia-dúzia que tinha acesso ao que acontecia no restante do globo, o Brasil não passava de um mar de ignorantes famélicos comandados pelo que de pior a Mãe Natureza deixou passar em sua seleção natural. A imprensa "especializada" tupinambá descobriu, como sempre, tardiamente. E ainda fez porquice.

Em 2001 a história ressurgiu com força pelas mãos de Nelio Rodrigues, no obrigatório "Os Rolling Stones no Brasil".

Aí, durante a primeira turnê dos caras aqui, em 1995, com "Voodoo Lounge", vem um locutor metido a inteligente e diz: "Pela primeira vez no Brasil...".

Amém

Simy, Deus chegou.

Vai lá pedir a benção.

terça-feira, setembro 20, 2005

Estilingue

Eles são feios. Eles são sujos. Eles são malvados. E também velho, podres de rico auto-referenciais e reduntantes. Eles são os Rolling Stones. E por isso não fazem rock´n´roll. Eles SÃO o rock´n´roll. "A Bigger Bang", último lançamento dos sujeitos, vem para redimir a banda da trajetória errática e mezzo-portuguesa mezzo-muzzarella feita desde meados da década de 70.

Os mais xiitas devem saber que "Exile on Main Street", de1972, considerado o melhor disco do grupo é, também por isso, tido como marco zero na carreira de Sir Mick Jagger e amigos. Depois disso, a coisa degringolou. Flertaram com a disco music, o heavy metal, o hard rock, o reggae, o power pop, e mais um monte de definições até chegar ao indefinível "Bridges to Babylon", de 97, cujo execrável conteúdo - apesar de alguns bons momentos - só perde para a capa de "Dirty Work", de 86. Introduzindo elementos de rap e música eletrônica, parecia o réquiem da banda. A Marcha Fúnebre. O Steven Segal num fim de domingo.

Mas eis que três coletâneas caça-níqueis depois, é anunciado um novo disco. Um disco de inéditas, o mais longo (em número de faixas, pelo menos) desde o saudoso "Exile", que contém nada menos que 18 canções. "A Bigger Bang" chegaria com 16 novas composições da parceria água-e-óleo Jagger-Richards. Era a tão esperada volta às raízes. O blues. O jazz. O country. A boca grande e suja cuspindo impropérios, fazendo as vovós tremerem e a molecada delirar. Voltaríamos para 1969 e enfiaríamos um grande cacete no rabo do Médici.

Claro que não foi tudo isso. Quando a primeira música de trabalho apareceu nas rádios, meu colar de contas coloridas arrebentou e minha camisa de algodão cru pintada psicoldelicamente a mão foi ao chão. "Streets of love" é o nome do quinto Cavaleiro do Apocalise stoniano. Não, outra balada não. Choradeira, não, Mick, puta que o pariu. Cadê aquele frenesi sexual embutido nos quadris? Onde foi parar a sem-vergonhice nata e leiga? Deu perdido na fúria santa que costumava carregar agarrado ao microfone? Parecia o fim. Era desistir ou esperar pelo disco todo, que não, não poderia seguir aquela linha mela-cueca óbvia. Claro que queríamos o óbvio, mas não ESSE óbvio.

E o óbvio veio. Ululante, até. Como um moribundo que ainda respira, o disco abre despretensiosamente com "Rough Justice", que poderia muito bem estar entre "Let it Bleed" e "Sticky Fingers". É como se Keith Richards estivesse dedilhando sua guitarra e algum moleque guitarrista, de cabelinho bem tratado e dentes alinhados e brancos, de alguma dessas novas e superestimadas bandinhas que pretendem "salvar o rock", chegasse dizendo "olha o que eu sei fazer, tio", e o velho pirata baforasse replicando "esqueceu de tomar leite, né?". E segue adiante a grande explosão, como numa aula de como fazer música de homem.

Inegável, porém, é a influência do pop dançante de Lenny Kravitz, quer parece ter agradado em cheio Mick Jagger quando este o chamou para participar do seu trabalh solo, "Godness in the Doorway". A pegada de "It wont take long" é totalmente pintada a imagem e semelhança do tampinha fã de alisamento japonês. O que não a deixa interessante, embora nada digna de mérito. Pra ouvir durante a leitura. O mesmo para a seguinte, "Rain fall down", com guitarrinha muuuito parecida com a de Prince em "Kiss". Medo.

O mérito, entretanto, vai para "Back of my hand", a que de longe mais lembra "Exile". Gaita, guitarra na distorção certa e bateria de vassourinha. Para ouvir mascando fumo, pagando de sulista invertebrado durante um fim de tarde nos pântanos da Lousiana. Se é que você me entende. "She saw we coming" é que mais aproxima o grupo de sua fase auto-destrutiva, podendo muito bem figurar em "Steel Wheels", junto com a calça branca de malha e as joelheiras azuis do pai do Lucas.

Claro que há baladas. Mais do que deveria, é verdade. "Bigger mistake" é quase auto-explicativa, trazendo mais tintura da fase solo de Jagger. Lembra "Don´t call me up" da última pulada de cerca do cara. Mas a coisa muda de figura quando é Richards cantando. Quando se imaginava que ele não tinha mais nenhum órgão interno funcionando, eis que ele dedilha um belo violão de aço e parte corações com "This place is empty", balada certamente feita sobre efeito narcoléptico e dedicada a alguma droga.

Chega de choradeira. O troco vem em "Oh no not you again", que diziam ter sido feita para Luciana Gimenez. A letra pode dizer alguma coisa, mas não creio que, à luz de um candelabro, Mick Jagger coçou a cabeça e soltou algo do tipo "vou ferrar aquela filha da puta. É, vou mandar um recado pra ela e ela vai ver só, se meteu com o servo errado da rainha". Sem chance. É para alguma mulher, como "Some Girls", "Bitch" ou qualquer outra, cheia de som e fúria, feita para ser tocada ao vivo.

"Dangerous beauty" acalma os ânimos como um "I go wild", do "Voodoo Lounge", mas com personalidade própria. Um típico e óbvio rock stoniano. O resto sobra do prato e vai pro lixo. A seguinte, "Laughin early died" inicia com a batida de "Hey Joe", de Jimi Hendrix, e apresenta a música mais soturna do disco, feita para um striptease cheio de evolução. Cheira a sexo, daquele feito embriagado, cheio de culpa e raiva.

Mais guitarrinha do Johnny Marr em "Look what the cat dragged in", boa para ser tocada em show também. Mas poderia ter ficado de fora e encurtado a empreitada, assim como "Driving too fast", que soa repetitiva e um tanto óbvia. Mas não o óbvio que queremos. E fecha com "Infamy", novamente levada pelo vocal podraço de Keith. Tá na cara que o cara andou ouvindo bastante Lou Reed e acrescentou um tecladinho Moog pra disfarçar. E tome gaitinha do INXS. Dispensável.

Deixando de lado as também dispensáveis amabilidades de "Streets of love" e o forçado engajamento político de "Sweet Neo Con" - que trás de quebra uma gaitinha à lá INXS - o álbum serve como registro de uma banda que sabe seu lugar na história e que ainda tem fôlego para se manter na ativa enquanto a medicina, seja ela qual for, conseguir manter vivos seus integrantes. Espera-se que, pelo menos, até fevereiro de 2006.

Afivelando as malas

Eu vou no Tim Festival em Sampa.

Quem mais vai?

Bem que poderia rolar uma reuniãozinha de blogueiros fanáticos por indie lá, hein?

Digam aí. Ou aqui.

Opus dei

Parece que DEUS está a caminho

sábado, setembro 17, 2005

Duela e quiem duela


Mick e cia. é capa da Rolling Stone deste mês. Entrevistona e tudo.

A massa pergunta: cadê o Maca, Galvão?

sexta-feira, setembro 16, 2005

Confissão no escuro

Estavam deitados. Ela, incomodada. Ele, pressentindo o abate. "Não sei", diz baixinho, quase suspirando, os lábios semicerrados, fingindo ajeitar um brinco. O estômago dá um pulo e congela, como se fotografado no momento mais alto de um salto com vara. Pela primeira vez sente o gosto amargo de uma lágrima que pinga retardada do olho para a boca. Quer ver os olhos dela, mas não consegue. Está escuro demais e ele não consegue olhar nos olhos dela e ver se eles estão mentindo ou úmidos como os dele.

Estala um dedo. Suspira por dentro. Pensa em alguma música que lembre a situação. Quer ligar o rádio, mas a bateria está fraca e depois terá que fazer o carro pegar no tranco para sair do drive-in. "Injeção eletrônica nova, nem pensar", permite-se. Volta para o banco traseiro. A boca ensaiando alguma contrapartida evasiva, uma palavra que seja apenas para restabelecer a ordem naquele que já foi um universo tão perfeitamente equilibrado quanto a prova de matemática da Vanessa, a garota que sentava na sua frente na quarta-série e não gostava de pentear os cabelos. "Devia ser filha de hippies, só pode", foge. Mas que era boa em cálculos, ah isso era.

Ela ainda estava imóvel. Olha para o teto. Vira-se para o outro lado. Ele apoia-se sobre um cotovelo e faz menção de beijá-la. "Belo subterfúgio", arrisca. Mas hesita. Olha para o relógio do painel e conta exato um minuto desde o impacto do iceberg em seu Titanic. Iceberg. O estômago agora estava gelado. Pensava numa boa dose de vodca. Odiava vodca. Na verdade, odiava todo tipo de bebida alcoólica. Bebia pelo social. Lembrou dos tempos de faculdade. "Tomara que estejam todos fodidos agora", amargou, enumerando os colegas que passavam as noites quentes no boteco, enquanto ele procurava a razão de existir socado dentro da biblioteca.

"Olha...", ela deixa escapar. Era como o engatilhar do trabuco. O polegar apertou firme o cão e puxou-o para trás, preparando o golpe fatal. O impacto seria rápido e seco. Fechou os olhos e ouviu os gemidos quentes vindos do box ao lado. Palavrões. Obscenidades. Súplicas de submissão. Palavras de ordem. Tudo era claro pela fina parede de concreto pré-moldado que separava os amantes.

Adorava sacanagem. Uma sinapse o transportou para o primeiro filme erótico de sua vida. "As Idades de Lulu". Não era como as besteiras adolescentes que o faria se consumir tempos depois nas madrugadas de sexta-feira e sábado na TV aberta. Era bonito. A tal da Lulu era bonita. Era na verdade um drama erótico, como toda situação erótica parece ser. Uma mistura de lágrimas e lubrificação vaginal, que mais tarde desbanca para a pura e simples putaria, orgia deslavada, como a que acontecia com seus vizinhos de coito.

O relógio do painel apontava quase dois minutos desde o início do naufrágio. Sentia ser necessário fazer valer sua presença ali. Mas faltavam palavras. Preferiu agir. Pegou a calça em um dos bancos e a vestiu. Ela moveu a cabeça olhando-o. Parecia espantada, mas não poderia precisar pela maldita escuridão em que estava metido. "Olha, eu...", tentou continuar. Pensou em chorar. A garganta secou e sentiu acumular gosminhas brancas nos cantos da boca, como quando ficava com muita sede e passava muito tempo sem tomar água. Queria água. Mas no sentido figurado.

Calçou os sapatos. Vestiu a camiseta. Ela não se mexeu, nua da cintura pra cima. Amarrou os cabelos e o segurou pelo braço. "Eu te amo", disse. E abaixou a cabeça. Se tivesse um machado naquele momento, a executaria, oferecendo a cabeça para algum deus pagão. Mas limitou-se a beijar os cabelos desgrenhados e suspirar.

"Vamo nessa".

segunda-feira, setembro 12, 2005

Todos estão loucos

Sexta-feira é dia de "pescoço" no jornal. Para quem é apenas leitor, e não "fazedor" de, o termo é utilizado para nomear o arranca-toco de fechar duas edições em um só dia. No caso, as edições de sábado e domingo. Tudo na sexta-feira. Logo, neste fatídico e aguardado dia, tudo o que puder ser feito para torná-lo menos agonizante é bem vindo.

Por isso, eu e uma amiga, que também é editora no jornal, decidimos que toda sexta-feira, antes do trabalho, fariamos uma coisa que adoramos: tomar capuccino de avelã na Nobel, megastore de livros que fica num shopping aqui da cidade.

Claro que a coisa não fica só no café com chocolate. Passamos um bom tempo vasculhando as prateleiras de livros, CDs e DVDs em busca de um destino para nosso "faz-me-rir". E foi aí que concluí algo que jamais poderia conceber: NINGUÉM da loja sabe ABSOLUTAMENTE NADA de livros.

Sacaram?

Uma livraria cujos funcionários não manjam NIENTE de livros!

Então o que explica "A Origem das Espécies", do Darwin, estar na prateleira de "Agropecuária"?

"Ah, tem um cágado na capa. É livro de bicho, oras", deve ter pensado o repositor.

Ou "O Poder do Mito", do Campbell, dividir a seção de "Esoterismo" com "Anjos Cabalísticos", da Mônica Buonfiglio?

"Mito não é uma coisa que não existe? Então. É igual anjo, cabala e Paulo Coelho", raciocinara o brilhante repositor.

Pior (ou melhor) ainda. "Fritz, The Cat", do Crumb, sendo vendido na ala de "Infantis"!!!

"História em quadrinho é coisa de criança. Põe lá também esse ´A Última Noite de Casanova´", ordena o mesmo sujeito.

Sem esquecer de "Matrix - Bem-Vindo ao Deserto do Real" acomodado na estante de "Informática".

"Hum... pela capa, deve ser alguma coisa de computador. Já sabe onde colocar, né?", indaga o senhor de todos os ISBNs.

Mas aí eu não aguentei quando vi "Windows on the World", romance de Beigbeder que tem como pano de fundo os atentados do 11 de setembro, confortavelmente classificado como "Informática". Chamei um dos atendentes. "Meu filho, esse livro é um romance, não tem nada a ver com informática. Tá na prateleira errada". O rapaz: "Ah, é? Bom, vou avisar para trocar então". "Faça isso, porque isso confunde os compradores e...", tentei continuar, mas ele já estava de volta ao balcão prosseguindo a animada conversa que havia interrompido com outra antendente.

Desisto.

quarta-feira, setembro 07, 2005

De ex para ex

Então ela me mandou uma carta. A primeira coisa que notei foi um tremendo "FILHO DA PUTA", desse jeito, em caixa-alta, no primeiro parágrafo. Ela é uma ex-namorada, cujo relacionamento terminou a coisa de dois meses. Entretanto, só agora resolveu desabafar e lavar a roupa suja. E precisou de 10kb de texto para isso.

Ok. Tudo bem. Estou acostumado a ouvir impropério de ex-namorada. Entre os amigos, brincávamos que existia o "Clube das Odiadoras do Brigatti", composto por garotas com as quais já tive algum tipo de envolvimento amoroso. Sempre achei graça nisso, apesar de, inegavelmente, me incomodar. Só que depois dessa carta, a coisa perdeu a graça. E por que?

Porque doeu. A epístola - muito bem escrita, por sinal - me deixou exatas duas noites sem dormir. A primeira, me sentindo culpado, o pior ser humano da Terra, indigno de sequer caminhar entre os demais. Essa era, lógico, a intenção da carta. A segunda noite, espumei de ódio pelo quarto como um cão preso dentro de um canil.

Nela, a ex-namorada é a vítima, que sofreu horrores nas mãos do crápula aqui, sujeito incapaz de amar ou que - questiona ela - sequer amou ou sabe o que isso significa. Se coloca como mais uma das minhas conquistas, iludida que com ela seria diferente. Diz ainda que eu não me coloco no lugar das pessoas que faço sofrer e que tenho uma vontade incontrolável de traçar todas que aparecem pelo meu caminho sem me importar com as conseqüências. Óbvio, final, sou um inconseqüente, imaturo, que busco algo que nem mesmo sei o que é e que, por isso, nunca encontrarei.

Como disse, à primeira vista o relato causou o efeito desejado. Pensei até em imprimir várias cópias e, sempre que uma garota se aproximasse de mim, daria uma para ela dizendo: "olha no que você tá se metendo, hein? Melhor cair fora agora".

Mas pensei um pouco. Ok, um pouco mais.

E conclui o seguinte:

FODA-SE

E resolvi encerrar, de uma vez por todas, essa história de que eu sempre sou o culpado por uma relação não dar certo e todas as minhas ex-namoradas terem razão me me odiar. Então...

FODA-SE QUEM NÃO GOSTA DE MIM.

Porque todas eram maiores de idade e sabiam o que estavam fazendo. O fato de ser sempre eu o carrasco que dá fim a coisa não pressupõe ser eu o culpado. Mas, como já disse uma vez, alguém precisa sujar as mãos. Claro que esse alguém sou eu. Então saio como vilão da história, como o cara sem coração que deixou a pobre e indefesa donzela jogada ao relento.

Porra, eu também já fui deixado, rejeitado, chifrado, sacaneado e iludido. E daí? Por acaso sai espalhando que odiava a pessoa, queimando a orelha dela de tanto falar mal ou escrevendo 10kb de rancor e mágoa? Não. Aceitei, engoli e segui em frente, como se deve fazer. Claro que não é fácil, mas sabia da minha parcela de culpa. Não jogava tudo nas costas do outro. Émuito cômodo encontrar um culpado, ainda mais quando se está por baixo e todo mundo sente pena.

O fato de eu não conseguir ficar nem seis meses com alguém pode me colocar no barco dos insatisfeitos, mas não no dos idiotas. Porque sei muito bem o que quero numa mulher, ao contrário do que a platéia pensa. E se ainda não encontrei, não foi por falta de tentativa. Se nessas tentativas quebrei corações e fiz algumas lágrimas verterem, lamento profundamente. Só conheço essa maneira de encontrar o que quero. Não conheço jeito de achar a parceira ideal sem ser experimentando.

Se iludi, enganei e menti? Às vezes. O problema é que apenas a parte podre bóia depois que esse tipo de barco afunda. Como um goleiro que fecha o gol o jogo inteiro e só é lembrado nas mesas redondas quando toma um frango.

Os mundos e fundos que prometi foram sinceros. Sempre acreditei, em todos os meus relacionamentos, que a coisa seria eterna. Pode parecer ridículo, mas não sei gostar pela metade. Não me envolvo apenas com os olhos. Ou entro com os dois pés, ou fico do lado de fora.

Mas porque apenas eu sou taxado como o grande monstro insensível? Simples. Porque eu tento. Porque não fico parado esperando aparecer uma mulher com um letreiro piscante na testa dizendo "Par perfeito". Coisa que, por sinal, não existe.

Não quero - longe disso - piedade ou comiseração. Nem me acho injustiçado e passo longe do rótulo de coitadinho. Nunca fui e nunca vou ser, porque assumo minhas besteiras e faço questão da minha parcela de culpa. Se a vida é feita de relacionamentos, então estou só começando. E foda-se quem não gostar de mim.

segunda-feira, setembro 05, 2005

A pequena morte

Apressadinhos, broxas e frígidas que me perdoem, mas gozar é fundamental.

domingo, setembro 04, 2005

Sexo-pop 4

Ele deixou que ela lambesse o pirulito, e era assim que ela queria.

Casa

- Então, o que rola por aqui?
- É um bar de garota.
- E o que vocês fazem?
- Nóis é puta aqui. Os homem vem, paga drinqui, conversa e, se quisé, a gente faiz pograma com eles.
- E é caro?
- Deiz real o quarto, mais cinco e cinqüenta do drinqui e vinte real da garota.
- E tem bastante hoje?
- Garota? Tem essas minina aqui e mais umas quatro lá drento. Pára o carro aí do lado e entra, dá uma oiada, vê se gosta.
- E... de onde vocês são?
- Nóis é de Goiais.
- Humpf, claro...

sábado, setembro 03, 2005

Paixão


Ela comprou um All Star vermelho e me mostrou ainda na caixa.

De quarentões e espumantes

A Simy, garota ishpérta do sul da nação, pergunta sobre o termo Tio Sukita, já amplamente explanado pela Carol. Então vou dar meus pitacos também, claro.

Sukita é, por definição, aquele refrigerante de laranja ruim pra caralho que, a exemplo de seus iguais, só é engolível com vódca vagabunda servida em festa de república estudantil.

Tio é, por definição, o irmão da mãe ou do pai.

Porém, a junção dos dois resultou no Tio Sukita, entidade que ganhou fama e notoriedade graças a propaganda do tal refrigerante. Nele, um sujeito de meia idade pensa estar "fazendo bonito" para uma garota que aparenta menos da metade de sua idade, quando na verdade ela sequer está interessada no seu pulover sobre os ombros, cabelos grisalhos ou camisa de gola pólo. Em todo episódio, ele acaba constrangido pela guria.

Se levarmos em consideração a questão da idade, todo homem, com no mínimo o dobro da idade de uma garota, pode colocar o crachá de Tio Sukita. Entretanto, a situação é mais gritante exatamente na faixa etária retratada pela propaganda, o que é fácil de entender.

O homem, ao chegar na hipotética metade de sua vida, vê-se na mesma situação que a mulher quando na primavera da mesma existência: podendo escolher. E atrai, evidentemente, a atenção - e tensão - das fêmeas mais novas, que vêem no sujeito alguém capaz de atender às suas expectativas e fantasias pós-adolescente.

Ele, claro, percebe que é o momento de aproveitar. E vingar-se. Vingar-se dos momentos em que, quando adolescente feio, desengonçado e inseguro, era preterido pelas garotas em detrimento de caras que agora ele é. E não pensa duas vezes em satisfazer sua raiva contida por anos de terapai, agora transformada em um fálico azougue (!) que estala em costas macias e imaturas de suas presas. E elas gostam. E gozam.

Mas não é o que ele quer. Ele nunca sabe o que quer. Como Tio Sukita que é, não amadureceu suficientemente para saber que nunca vai satisfazer o moleque existente embaixo da epiderme peluda que ostenta. Ou talvez saiba, mas prefere tocar adiante para ver até onde a brincadeira vai. Nisso, deixa um rastro de pequenos e jovens corações carcomidos por sua irresponsabilidade.

Um Tio Sukita é, por definição, um homem que se recusa a crescer. Mas ao contrário de Peter Pan, ele quer comer a Sininho.

sexta-feira, setembro 02, 2005

Hierarquia

- Gustavo, você vai no show da Avril Lavigne.
- Ah, bicho, nem fudendo.
- E porque não?
- Putz, nem curto, né? Só vai dar pirralhada, vou me sentir o maior Tio Sukita no meio da gurizada. Não pode ser outro?
- Não. Você não é metido a entender de música? Então, agora vai lá. Assina sua credencial aqui.
- Putz, tu só me fode, hein? Alguém mais vai?
- A Tati.
- Ah, saquei, vou de babá da sua filha...
- Sim e não. Ela vai fazer a fotos e você me traz a reportagem.
- O que eu poderia falar de um show da Avril Lavigne? Deixa eu pensar... hum... ah... é... hum...
- Tá, tá, muito engraçado. Tudo bem que você não gosta, mas não esculacha. Faz direito lá, hein?
- Humpft, beleza. Vou preparar a chapinha pra ficar com o cabelo igual ao dela. Assim ninguém me reconhece...
- E não esquece da gravatinha. A Tati falou que ela usa uma gravatinha. De repente, até combina....
- Às onze da noite todo mundo incorpora o espírito do Costinha e vira humorista, né?
- É. Vai se engraçado.
- Só se for pra você.
- E precisa mais?
- ...

terça-feira, agosto 30, 2005

Contagem regressiva


É segunda-feira.

Enquanto isso, os bons velhinhos disponibilizam o álbum todo para ser degustado, faixa a faixa, na íntegra.

Comentários para depois.

segunda-feira, agosto 29, 2005

Conclusões pré-porre de tequila no Bar da Montanha num sábado frio

Decepção. Raiva. Mágoa. Constrangimento. Nada disso resume o que senti, sentado numa mesa da cafeteria da Nobel, com uma xícara de café esfriando na minha frente, quando conclui, com uma pequena ajuda de uma amiga, que não conseguia sequer encher uma mão de amigos. Não poderia nem dizer que tenho "meia dúzia" de amigos, porque não tenho. Contando com ela, somo quatro pessoas que posso chamar de amigos. Eram três quando contei na cafeteria, mas depois de sábado, o número, vejam só, subiu para quatro. Não preciso citar nomes, eles sabem quem são. Mas ainda não é uma mão.

Isso me deprimiu muito. Me deprimiu mais ainda saber que gente com a qual convivi por tanto tempo - coisa de duas décadas - nunca foram amigas. Eram, no máximo, colegas de descoberta, companheiros de roubadas, gente que inegavelmente fez parte da minha história, mas de quem não poderia pedir um rim emprestado se precisasse. Exagero? Não se levar em consideração o que um dos quatro que posso chamar de amigo fez por mim no sábado, esperando por mim quase uma hora, às 4 da manhã, numa sala de hospital enquanto eu era entubado com soro glicosado por conta do tal porre de tequila.

Camaradas de infância, com os quais cresci junto e reparti boa parte da minha vida, hoje estão distantes, perdidos em alguma dobra espaço-temporal. Um deles, fiquei sabendo por terceiros, realizou um antigo sonho de comprar um carro. Eu, que sempre reparti o meu com ele, às vezes sendo até pressionado para isso, não fiquei sabendo pelas vias de fato.

Me senti traído, corneado, passado pra trás, feito de idiota. Não fiquei com inveja ou ciúmes. A dor foi por conta da pá de cal sobre um relacionamento que eu sempre acreditei que duraria pra sempre. Depois, a inevitável conclusão de que, no final das contas, não consigo encher uma mão de amigos sem reparar que, dos que a preenchem, três foram conquistados nos últimos seis anos.

O que foi feito dos velhos companheiros? Caráleo, será que fui tão incompetente a ponto de não conseguir conservar bons laços afetivos com esse pessoal? O que nos deixou tão diferentes, nos distanciou de maneira tão arrasadora, e, principalmente, nos tornou tão estranhos? Procuro e não encontro o eco de nossas risadas em postos de combustíveis perdidos pela cidade, nas longas caminhadas noturnas em busca de diversão, nos planos traçados em frente a Unimed, nas besterias molhadas com vinho vagabundo e Elma Chips.

Nada. É um vazio tão grande, um váculo tão profundo, mas ao mesmo tempo tão antigo que parece fazer parte da paisagem. Como se sempre estivesse estado ali. Eu é que não percebia, ou queria fingir que não existia, pintando sobre ele um quadro de paisagem tão etérea quanto nossa amizade. Nossa frágil amizade.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Ô vontade...

Originalmente publicado no T&Q, há coisa de um ano, ressucito o dito cujo em razão da Nunu estar predisposta a. Ela é fiotona, mas manda bem.

É inevitável: uma hora ou outra, você também vai tocar o f***-**. Pode-se classificar o ato de apertar a tecla "F" como uma opção, e não a falta dela, como muitos acreditam. A questão é apenas o momento em que ela se torna iminente. Pode ser no começo, quando nenhuma outra coisa foi tentada, mas que só de analisar a situação já se sabe onde vai terminar; ou no final, quanto tudo já foi tentado, restando apenas apelar para ela. O que diferencia é, portanto, a quantidade de energia gasta em cada operação. Portanto, tocando o f***-** logo de início, economiza-se energia e, olhem só, um pouco de tempo, mercadoria essa em falta em nossos dias no século 21.
Claro que não é tão simples. Tocar o f***-** não resolve nada. Mas afinal, quem está nessa para resolver alguma coisa? Quem quer realmente fazer algo decente? Você quer? Por quê? O que te move? Dinheiro? Pudor? Medo? Orgulho? Hombridade? Ganância? Vaidade? Qual o pecado que te faz levantar da cama e começar um novo dia? O que, afinal, te impede de tocar o f***-**?Os árabes, sabemos, são campeões nisso. Não engolem muito sapo, não. Escreveu, não leu, é bomba pra todo lado. Tocam o f***-** mesmo, e f***-** o que pensam os ocidentais disso. Vai encarar? Que argumento prefere usar? A beleza da vida? O canto dos rouxinóis? A inevitabilidade de Deus? A Liberdade? A Igualdade? A Fraternidade? Um Big Mac? E quando não se tem isso? O que te impediria de tocar o f***-**?
Onde colocamos nossa tolerância, nosso discernimento, nossa capacidade de aceitação, quando tudo o mais parece convergir para a tecla “F”? Pensar que “dias melhores virão” é bonito, mas também patético. Tanto inútil quanto tocar o f***-** é acreditar no seu oposto. Por que agüentar tanto mais? Por que continuar a viver numa eterna apnéia social? O morro vai descer, sabemos disso também, e aí será a vez deles tocarem o f***-**. Os desgraçados do mundo, todos eles, não estenderão mais suas mãos esquálidas nas esquinas, mas as fecharão para cobrar seu quinhão. Então porque esperar? O que te segura de tocar o f***-** de vez?
Teu subemprego? Tua suposta cidadania? Seus sonhos que não se realizam? Seus planos que não dão certo? Uma foto na cabeceira da cama? O eco dos sermões da mamãe antes de dormir? Quer dar o exemplo, é isso? Quer mostrar que é possível não tocar o f***-**, que um entendimento, uma terceira via, um acordo, alguma coisa que impeça o gatilho de ser puxado pode existir? Quer ser um mártir? Um santo? É isso que te impede de tocar o f***-** de uma vez?
Tudo se resume, parece, ao medo. Até o Drummond sabia disso. Ninguém toca o f***-** de verdade. Ninguém quer perder as migalhas secas de vida que conseguiu juntar, e que são comidas agora amaciadas com algumas poucas lágrimas amarelas. De medo. De medo de tocar o f***-**.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Relâmpago

O combinado era não se envolver, certo? Diversão apenas, sexo casual, o eterno frescor do descompromisso jorrando pelos póros, só alegria. Mas não. Não dá. E sabe quando se percebe que não dá pra evitar, quando se torna real a iminência do despedaçamento da promessa original? Naquele intervalo entre a ejaculação e o banho.

Sim, aquele espaço de tempo em que os dois corpos ainda molhados e ofegantes se abraçam, dizem que foi tudo maravilhoso e sacam promessas que tinham jurado nunca fazerem. Mas fazem, e com uma convicção que chega a espantar. Com o perdão do trocadilho, o sexo fode com tudo. Fode com qualquer tentativa de não-envolvimento. Trepou, um abraço.

Acho que esse interregno é o equivalente ao intervalo entre o relâmpago e o trovão. Como quando se vê uma clarão no céu e conta-se os segundos para tentar adivinhar onde ele vai "cair". É mais ou menos isso. O estrago tá feito.

domingo, agosto 21, 2005

Losers!

O Beck vai tocar baixo com os Stripes. Ainda prefiro o Mark Sandman.

Urrú!

Aprendi a botar fotas. Agora o bicho vai pegar.

Irmã de amigo


Flagrante da irmã do Bia. Massa, vai dizer?

O anal possível

Uma amiga terminou um namoro de sete anos faz duas semanas. "Não damos mais certo", sentenciou ela. Depois do segundo final de semana de liberdade, me confidenciou. "Dei o cú". "Putz", exclamei como resposta. Nada mais precisava dizer. E isso me fez contextualizar sua situação e chegar a algumas conclusões.

A garota namorou sete anos um único sujeito. Só fazia sexo com ele. Por sete anos, apenas o pau dele lhe interessou. Sua vagina tinha tomado praticamente a fôrma do instrumento do rapaz. E estava ótimo. Beleza, há quem consiga viver na monogamia. Mas nada, absolutamente nada, resiste ao tédio, que leva ao desinteresse, que leva ao fim de tudo. Foda-se o tempo em que as escovas de dentes tiveram a companhia uma da outra: deu brecha, dançou. E com ela não foi diferente. O fato de ter feito sexo anal com um sujeito que acabara de conhecer numa noite é o resumo disso.

Porque, acredito eu, existam duas formas de se conseguir que uma mulher forneça o orifío desejado sadicamente por 99% dos homens heterossexuais. A primeira, foi a adotada pelo ex-namorado dessa amiga. Depois de tanto tempo de convívio, ela se sentia extremamente a vontade para fazer o que quisesse com ele. Confiava nele, que podia, por sua vez, confiar nela. O carinho trocado, a cumplicidade sincera e a certeza que seriam felizes para sempre a fizeram ficar de quatro e, como diria a Virgínia, mandar o cara "meter aí".

Só que ela havia demorado quatro anos para resolver isso. Quatro anos com CURIOSIDADE, mas sem VONTADE suficiente para encarar o bicho por trás. O que nos leva a segunda forma de se conseguir isso de uma mulher. O sujeito que ela conheceu dois finais de semana depois de ter largado do namorado a fez ter essa vontade numa única noite. Sua competência na cama (ou seja lá onde a cópula tenha rolado) foi tamanha que ela mandou um "mete aí" sem pestanejar.

O cara a excitou tanto, instigou seus sentidos de tal modo que não deve ter precisado nem de quatro horas para conseguir o feito. Enquanto o namorado, com carinho, dedicação e paciência, levou quatro anos. Ruim de serviço? Talvez. Mas é inegável que competência é fundamental. E competência não é pau de 22 cm, saber o Kama Sutra de trás pra frente ou mandar um buquê de tulipas importadas da Holanda com um cartão escrito "Eu te amo" em 876 dialetos, incluindo línguas mortas.

É saber dar o que o outro quer. É algo subliminar. Como fazer cosquinhas nos recônditos mais escuros dos desejos mais indecentes apenas com um olhar. Alguns, com mais sorte, nascem com isso. Outros aprendem com o tempo. Quem permanece apenas com mais do mesmo, está fadado a ficar pra titio. Ou titia.

E não é apenas com relação a sexo. A sintonia que existe entre duas pessoas se dá de maneira incompreensível, a princípio, mas pode ser encarada como um jogo. Um jogo onde ganha não quem necessariamente sabe jogar melhor, mas blefar mais convincentemente, com os olhos vidrados e um sorriso de canto de boca.

terça-feira, agosto 16, 2005

Do pó ao pó

O último livro que ganhei foi "Pergunte ao Pó", do John Fante. A pessoa que me deu sabia da minha queda pela obra e não errou. Eu é que me surpreendi ao me ver tremendamente intimidado quando comecei os primeiros capítulos. Confesso que pensei seriamente em largar de lado e abrir qualquer outro que tivesse a mão.

Mais por insistência dela que minha, mantive a leitura. Agora, ao final, sinto que fiz um bem danado a mim mesmo. O pó de Fante é realmente mágico. Não à toa, influenciou a Beat Generation, minha escola predileta em gênero, número e grau. Logo, me sentia na obrigação de ler criador e criatura.

Ao final, me deparei com uma leitura que jamais imaginei fazer quando comecei a ler o relato de Arturo Bandini e sua solidão monástica, sua vontade irascível de ser reconhecido como escritor e amor incondicional por um editor que nunca conheceu, mas do qual guardava um retrato na parede.

Sob as orientação dela, li me atendo a questão do pó. A coisa é tão coesa que ao fim da obra Arturo joga o próprio livro, com dedicatória para a mulher amada e tudo mais, seu primeiro romance publicado, no deserto, onde ela desaparecera. E o que é um deserto que não um lugar cheio de pó? A simbologia disso é fantástica, algo como: "Quer saber da minha vida? Quer saber do que sou feito? Da onde vim ou para onde vou? Pergunte ao pó".

Lógico, é até biblíco, como na história do "Do pó viemos, ao pó retornaremos" e tal. Durante toda a vida do personagem o único coadjuvante que aparece com freqüência é o pó. Seja nas espeluncas onde ele come, nos pardieiros onde dorme, nas roupas que veste e até sobre as pessoas que se envolve. O pó é sua única testemunha, a testemunha ocular de toda uma vida vivida por viver, vivida para o que se gosta e acredita.

Talvez essa seja uma das mensagens de Fante: numa vida vivida plenamente, a única companhia certa é a do pó, nossa origem e também o nosso destino final. Nada é mais certo que o pó, que está em todo lugar e ao mesmo tempo em lugar algum. Insistente e persistente, como a vontade do personagem de ser escritor. O pó é, dessa forma, a metáfora da vontade de viver, de transformar sonho em realidade, de existir onde ninguém bota fé que possa. Perguntar ao pó é como perguntar a si mesmo.

(Tanx a lot, Maryjane)

Barbie

Não sei porquê, mas tive medo disso.

sábado, agosto 13, 2005

Papo reto

- Você tá com cheiro de puta.
- Tenho culpa se você gosta?
- Já falei pra não usar esse perfume, porra...
- Uso o que eu quiser, você não manda em mim.
- Da próxima vez, esfrega no pescoço a bunda de uma cadela no cio, pode ter certeza que vai atrair muito homem...
- Você eu sei que atraio. Pra mim tá bom.
-Tu gosta de fazer esse joguinho canalha, né? Sabe onde isso vai parar...
- Sei. Numa rua escura, você urrando e o banco do carro todo lambuzado de nós dois.
- Ah! Virou poeta, agora? Vai se foder, vai...
- Não fala assim que eu me excito. Olha como tô começando a me molhar...
- Daqui minha mão, porra.
- A propósito, o perfume foi sua mãe que me deu.
- E acha que isso faz retirar o que eu disse?
- Nem a própria mãe, credo...
- Tá, chega. Vamo embora.
- Pra onde?
- Alguma rua escura. Consegui uma ereção.
- Oba.

Ziper da semana

O ano é 1969. O local é um parque inglês. Sob uma plataforma de madeira com menos de 1,5 metro de altura, quatro sujeitos fazem a festa para coisa de 500 mil pessoas, que estão lá para curtir uma tarde de sol deitados sob a grama. Como se ainda tivessem saído do útero da mãe-música, Mick Jagger, Charlie Watts, Keith Richards e, estreando no lugar do recém-falecido Brian Jones, Mick Taylor, fazem um belíssimo show de rock’n’roll. Que só é interrompido quando a mulherada começa a invadir o palco para tentar agarrar o sacolejante vocalista.
Então corta. Vai para 1998. O local é um imenso estádio de futebol inglês. Embaixo e acima de uma mega estrutura de aço e estão os mesmos Jagger, Charlie, Keith e também Ron Wood, ocupou a vaga de Taylor. Eles tocam para coisa de 100 mil pessoas, que devem ter pago vários euros para estarem lá com o intuito de declarar seu amor incondicional aos tiozinhos. As músicas são praticamente as mesmas, com óbvias diferenças técnicas. Já o comportamento dos músicos beira o pastelão.
Se há 29 anos eram símbolos da rebeldia juvenil, não medindo o que falavam e se comportando como demônios de cabelos compridos, provocando e abalando o sistema, hoje tomam chá com a rainha. No show de 1998, é visível uma encenação que inexistia no auge do grupo. As reboladas de Mick Jagger, as caras e bocas de Wood, o cigarro semi-apagado de Keith e o ar blasé de Charlie soam falsas e, arrisco, de mal gosto. Dá pra notar que estão dando exatamente o que o público quer, enquanto faziam exatamente o oposto quando surgiram.
Mas isso não é privilégio dos Rolling Stones. Cito eles como exemplo por serem os mais antigos em atividade, beirando os 50 anos de carreira. Mas há outros, com bem menos tempo até, que não param de repetir os clichês que ajudaram a criar. Poucos são os artistas que conseguem se manter íntegros ao longo de sua carreira, sustentando não mitos, mas personalidade, integridade e honestidade. Dá pra contar nos dedos os sujeitos que se mantém fiéis às suas origens sem soarem anacrônicos ou limitados.
Mesmo sem acertar sempre, caras como David Bowie, Paul McCartney, Lou Reed e Patti Smith estão entre eles. São lendas, mas não ligam para isso. Não se importam com o que foi feito deles, mas sim com o que farão com isso. Mas aí já é outra história.

segunda-feira, agosto 08, 2005

Finis

Aos 16 anos descobri o Led Zeppelin numa extinta Showbizz que tinha o Dado Villa-Lobos e o Marcelo Bonfá, da então recém-acabada Legião Urbana, na capa. Comprei meu primeiro disco deles (do Led, não da Legião) numa loja de CDs que não existe mais num shopping que estás prestes a desaparecer. A primeira audição foi na casa de minha primeira ex-namorada.

Passado. Passado. Passado. É tudo passado. Agora mesmo parece que já passou, pertence a um tempo coberto de pó e cheirando a formol da sala de anatomia de faculdade.

Parece ser impossível viver DO presente. Apenas viver O presente da forma que ele se apresenta: inevitável. O corpo encravado nele, mas a cabeça divagando entre o ontem e o amanhã, estacionando num e noutro a esmo, sem muita consequência, sem muita predileção. Sem pertencimento.

Checo minha tímida coleção de DVDs e vejo um show dos Rolling Stones de 1969, o Woodstock do mesmo período, um The Doors de pouco antes e, putz, um Led Zeppelin de 1973. Nada do meu tempo, nada da minha geração, nada da minha época, nem sequer do ano do meu nascimento.

Ah, tem um David Bowie de 2003. Mas Bowie é futuro até quando é passado, e passado quando trata-se de futuro, é Joselito, apelão, não sabe brincar.

Então aonde eu fico? Entre o pós-punk dos Smiths e Legião (ambos finados) e o nu-punk-pop-rock do Bloc Party, Placebo e Strokes? Ou volto pra trás e me declaro um hippie de coração punk setentista?

Melhor seria esperar pelo próximo bonde da história, talvez? Porque essas bandas vão acabar. Assim como as revistas e sites que falam delas, os quais acompanho e deixo fazerem parte da minha vida. Então se acabam, uma parte da minha vida também termina. É certo que uma outra começa, mas a lacuna nunca será preenchida. Aquele buraco que estava sendo preenchido com esse amor e dedicação surreal jamais será completado, deixando um legado de ausência.

E as pessoas também irão. De uma forma ou de outra, deixarão de ser parte da minha vida da forma como são hoje. E outras virão, para depois partirem. Mas seus lugares não serão preenchidos. Novos deverão ser abertos. Ficamos, então, cheios de valas meio-cheias-meio-vazias.

Perdidas no tempo. Como uma antiga Showbizz, um disco do Led Zeppelin ou uma antiga namorada.